Uma das grandes obras de arte de nosso
século é a animação da Pixar WALL·E.
Baseado na ideia original de Pete Docter e Andrew Stanton do início da década
de 90, de como seria a vida de um robô que estivesse sozinho em uma Terra
desolada e destruída. Com o passar dos anos a história ganhou corpo e apoio
dentro da Pixar até se transformar em um marco visual do cinema. Descrito pelo
próprio Stanton como uma gramática visual, WALL·E
nos remete aos primórdios da indústria cinematográfica dos filmes mudos de
Georges Méliès, criador dos efeitos especiais, que na época não passavam de
efeitos visuais e jogos de câmera. O vencedor do Globo de Ouro e Oscar de
melhor animação aparece no topo da lista da revista Time como melhor filme da década passada.
Auto e HAL 9000 |
WALL·E possui inúmeras citações de clássicos
do cinema, uma delas é 2001: Uma Odisséia
no Espaço, marco da ficção científica dirigido e escrito por Stanley
Kubrick em parceria com o escritor Arthur C. Clarke. Ambas possuem o mínimo de
diálogos e uso de som e imagens para comunicação com o público. Exploram a
inteligência artificial e a convivência de robôs com humanos que resulta em
motim contra os homens, tanto HAL 9000, computador da nave Discovery, da obra
de Kubrick, quanto Auto, piloto automático da Axiom, que, aliás, é uma
homenagem ao robô da Discovery que possui um olho vermelho no centro em clara
referência à obra dos anos 60, ambos surtam e buscam o controle de suas naves.
Os efeitos sonoros são um show à parte
e foram indicados ao Oscar. A canção Also
Sprach Zarathustra (Assim Falou
Zarathustra) composta por Richard Strauss e presente também em 2001, inspira a evolução filosófica do
homem segundo a obra do filósofo alemão Friedrich Nietzsche, exposta na cena de
briga entre Auto e o comandante da Axiom. Outra canção marcante que embala a
parte romântica da animação é Put on Your
Sunday Clothes, que está presente também no musical Hello Dolly, possui um simbolismo expresso no acariciar das mãos de
um casal ingênuo e marca o amor robótico de WALL·E por EVA. Essa busca
incessante é tão singela e ao mesmo tempo tão complexa, quantos sinais como
esse deixamos passar no decorrer de um dia? Pequenos gestos e pequenos atos que
são capazes de transformar a vida em um parque de diversões repleto de algodão
doce. Outra grande referência é Sigourney Weaver que dá voz ao computador da
Axiom, Stanton brincou com ela dizendo: você percebe que agora é a “Mãe”? Mãe é
o computador da nave Nostromo de outro lendário filme de ficção Alien – O Oitavo Passageiro.
O balé no espaço de WALL·E e EVA ao som de Danúbio Azul, composta por Johann Strauss II, é emocionante e realçam as curvas de EVA que teve seu desenho inspecionado por ninguém menos que o protegido de Steve Jobs, Jonathan Ive, desenhista do iPod. A fotografia tão bem trabalhada quanto a sonorização, criou uma Terra desolada e um espaço tão vazio e ao mesmo tempo tão brilhante que torna difícil a dissociação entre animação e realidade.
A principal mensagem que o filme nos
passa também é o que o torna tão especial. Somos reféns da obviedade e
mergulhamos em nossa rotina. A imagem de um robô solitário que possui uma
diretriz para realizar as mesmas atividades é o retrato mais fiel do homem
atual. E apenas o amor simples e puro é capaz de reacender a centelha da vida. A
acomodação e praticidades tecnológicas da Axiom são um espelho de nosso futuro.
Neste ponto o toque de mãos entre os dois robôs é o que mais se aproxima do
calor humano já em extinção nos dias de hoje, dias estes em que o texto que
você lê nesse exato momento pode ser visualizado em qualquer dispositivo móvel
e em praticamente qualquer lugar do mundo. Isso é bom, mas existem outras
coisas, devemos cuidar para que não nos tornemos as “máquinas”. A cena em que WALL·E
encontra uma caixinha com um anel de diamantes e sua escolha pela caixinha
mostra os valores que adotamos, falta-nos a curiosidade das crianças, o desejo
da descoberta de um novo mundo a cada dia e o amor pelas pequenas coisas que é
a diferença entre a vida real e a artificial.
Confira o Trailer:
Que o cinema esteja com você!
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