Quantas vezes paramos para pensar
sobre nossa vida, nossas escolhas e aonde elas nos levaram. Os motivos que nos movem
à esta introspecção são muitos, geralmente grandes perdas geram grandes abismos
em nossa realidade. Quantas coisas poderíamos ter feito de forma diferente e
quão difícil é lidar com as consequências de nossos atos. Toda essa filosofia é
o que restou de Dexter. Aos fãs acostumados com seus valores morais e éticos
que transformavam a sociedade em meros cães de estimação escravos da ração
capitalista e completamente alienados por seus desejos impossíveis de serem
realizados, encontraram nesta última temporada um Dexter ainda mais relapso e
amolecido. Ele tornou-se humano, demasiadamente humano!
O começo foi instigante, o episódio
inicial bateu todos os recordes de audiência do seriado, mas o desenrolar da
trama se perdeu em pontas soltas de temporadas anteriores, o que a transformou
em um cemitério de lembranças, com a ressurreição de velhos fantasmas. Mas, até
nesse aspecto a série deixou “rabos”, quem não se lembra da
Lumen, interpretada pela
bela Julia Stiles? Ao término da sexta temporada ela vai embora levando consigo
os segredos de Dexter, Stiles foi cogitada para retornar e “encerrar” sua
história, no entanto, foi ignorada. Hannah McKay, vivida pela não menos bela Yvonne
Strahovski, foi presa na
sétima temporada e também levou consigo os segredos de Dexter. Na última temporada
voltou para aparar as arestas de sua passagem. Era um sinal da decadência do
seriado. Dexter estava apaixonado! E a temporada chegou a parecer novela
mexicana, encontros e desencontros e o que mais se via eram casais felizes.
Triste realidade de séries que se estendem por muito tempo e não conseguem
manter o mesmo nível do início.
No decorrer das
temporadas é possível notar um enorme esforço para aproximar Dexter de um
humano comum, normal, não mais um serial killer com valores morais que matava
seguindo um código de ética, semelhante, ironicamente, ao que os médicos
utilizam para salvar vidas. O ápice desse esforço se dá nesta derradeira
temporada, a introdução da Dra. Vogel que, de repente, se torna quase uma
mãe para ele, psicanalista que realiza experimentos com Dexter e tenta provar a
si mesma que todas as anomalias psíquicas seguem um padrão (the
code?), mas a triste
verdade para ela é que os humanos tendem a escrever a própria história sempre
de forma diferente, com ele também foi assim. E lá se foi o Dexter insensível aos
sentimentos, mas extremamente focado no comportamento e convívio sociais, que
criou dois lados do mesmo mal e se pôs do lado bom de sua maldade. E lá se
foram todas as filosofias de um serial killer anti-herói que merecia ser o
contrário. Lá se foi o Dexter.
O canal dos
Estados Unidos Showtime,
abre espaço para Homeland,
como é de se notar pela antecipação de Dexter, o que pode ser uma das desculpas
para o final tão fraco e decepcionante. Para todos os fãs que cultuaram Dexter
Morgan como um herói, o fim de seu personagem deveria ao menos tentar deixar
essa impressão e não forjar um rótulo em uma embalagem qualquer. Após oito anos
ele envelheceu, perdeu sua perspicácia e acurácia com que lidava com suas
investigações particulares, faltou amor, algo que ele nem sabia que existia,
mas que empregava com perfeição. Dexter amoleceu, deixou de pensar, deixou de
ser ele mesmo. Qualidade rara e que torna as pessoas únicas. Perdeu sua frieza,
deixou de ser calculista, tornou-se apenas... humano, demasiadamente humano.
Parafraseando Nietzsche: aquele que luta com humanos deve ter muita cautela
para que não se transforme no alvo de sua própria luta. Remember the monsters?
Goodbye
Dexter!
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