20 de dezembro de 2012

O Palhaço (2011)


O drama escrito, produzido, dirigido e interpretado por Selton Mello mostra a vida de um palhaço em crise existencial. Ele interpreta o palhaço Pangaré e Paulo José interpreta Puro Sangue, seu pai. Pangaré divaga entre as apresentações e seu pai percebe o momento difícil que ele vive e as dificuldades de manter o circo.

A frase que sintetiza o roteiro do filme é impactante: “eu faço todo mundo rir, mas quem é que vai me fazer rir” dita por Selton Mello em um momento introspectivo. Buscando se encontrar no mundo ele decide deixar a vida circense e vai morar na cidade, tira os documentos, consegue um emprego, mas permanece melancólico. Com ajuda de seu empregador Nei, interpretado por Jorge Loredo o eterno Zé Bonitinho, ele encontra uma nova razão para viver, Loredo faz todos a seu redor, incluindo Benjamin (Selton Mello), rirem sinceramente de piadas não tão convincentes.

Selton declarou que a ideia do filme surgiu em uma crise de criatividade que teve. Ele quis mostrar o lugar de cada um no mundo a partir de suas escolhas. Demonstrando a eterna questão que explode dentro de nós desde os tempos mais remotos: quem somos? Esbarrando em uma filosofia socrática que aconselha ao autoconhecimento.

Carregado de um simbolismo singelo, mas pesado, vemos nascer o brilho de estrela nos olhos de Guilhermina, interpretada por Larissa Manoela, que após esse papel foi escalada para viver a vilã esnobe Maria Joaquina em Carrossel, percebemos também a tristeza muda pelos olhos já sem luz de um pai que compreende que os filhos partem como pássaros e a imagem de um ventilador que acompanha todo o desenrolar da trama que, aparentemente, passa despercebido por Benjamin. Essa distração é proposital e produto do estado de atordoamento que o diretor quer passar ao telespectador.

Flertando com Carlitos de Chaplin, a imagem do palhaço vagabundo e outras vezes caído, com um sorriso forjado ou pintado no rosto, somos remetidos à origem dessa arte. O termo Palhaço provavelmente deriva do italiano pagliaccio (omino di paglia – homem de palha). Isso remonta a camponeses que buscam trabalho na cidade, mas sem sucesso, acabam indo morar na rua. As roupas são doadas, por isso as calças maiores ou mais largas e os sapatos que às vezes são muito grandes. Tudo descombinado entre si. O nariz vermelho, segundo a lenda, provém dos tombos que levam.


Ao revelar o trágico do homem tornam-se engraçados. Somos nós despidos diante do espelho de nossa alma, mas incompreendidos por nossos semelhantes. Essa verdade pesada causa riso em alguns e repulsa em outros. Como exemplo o próprio personagem de Selton Mello, ninguém o leva sério nos fazendo rir desse humor negro.

O palhaço é uma figura emblemática, representando aqueles que defendem um lado sombrio e insano dos palhaços cito O Coringa, com uma postura neo-anárquica e um riso típico do palhaço triste, forjado em seu rosto, causa desordem e terror em Gotham City. Por outro lado, na tragédia shakespeariana, o bobo da corte é presença certa, como na peça Rei Lear, baseada em antigas lendas britânicas, o rei enlouquecido após ter sido traído por duas de suas três filhas é banido de seu reino, como acompanhante o seu fiel bobo, visto por muitos como insano, desempenha um papel político de extrema lucidez e sabedoria.

Confira o trailer:

O Palhaço, filme de 2011, está presente na pré-lista do Oscar, concorre com outros 71 longas de todo o mundo, entre eles o austríaco Amour vencedor da Palma de Ouro em Cannes e eleito o melhor filme do ano por críticos de Los Angeles e o francês Os Intocáveis, que venceu a disputa na França com Ferrugem e Osso, estrelado por Marion Cotillard. Antes de se tornar Benjamin, Selton convidou Wagner Moura e Rodrigo Santoro que não aceitaram devido a conflitos na agenda.

Cartaz promocional para o Oscar 2013

O Palhaço é um filme emocionante e se não for o melhor nacional que vi é um dos melhores.


O rato come queijo, o gato bebe leite e nós gostamos de cinema e que ele esteja com vocês!

6 comentários:

  1. O Palhaço está fora da disputa pelo Oscar 2013, foi anunciado hoje os nove semi-finalistas que concorrerão às cinco vagas, abaixo a lista completa:

    Áustria: "Amour", de Michael Haneke
    Canadá: "War witch", de Kim Nguyen
    Chile: "No", de Pablo Larraín
    Dinamarca: "O amante da rainha", de Nikolaj Arcel
    França: "Os intocáveis", de Olivier Nakache e Eric Toledano
    Islândia: "The Deep", de Baltasar Kormákur
    Noruega: "Kon-Tiki", de Joachim Rønning e Espen Sandberg
    Romênia: "Beyond the hills", de Cristian Mungiu
    Suíça: "Sister", de Ursula Meier

    É uma pena. Em declaração Selton disse: "Sabíamos que seria uma batalha dificílima na corrida pelo Oscar de filme estrangeiro, esta edição teve recorde de inscrições, somando 71 filmes para apenas cinco vagas. Outros filmes muito importantes ficaram de fora da lista, como o potente italiano 'Cesar deve morrer' dos fabulosos Irmãos Taviani, 'Pietá', representante da Coreia do Sul e vencedor do prêmio de melhor filme em Veneza, só para citar dois de 62 que não avançaram"

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  2. Esse filme é lindo demais!!!

    "Ao revelar o trágico do homem tornam-se engraçados. Somos nós despidos diante do espelho de nossa alma, mas incompreendidos por nossos semelhantes." Uma das melhores definições de palhaço que já vi...

    "O rato come queijo, o gato bebe leite e nós gostamos de cinema e que ele esteja com vocês!" Bela adaptação de uma das melhores passagens do filme!

    Abração!

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  3. Olá Rose. Também acho que essa passagem é muito marcante e emocionante, a presença do Jackson Antunes é demais!

    Abraço e obrigado!

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  4. Olá Emerson, realmente esse filme é um dos melhores nacionais dos últimos anos. Principalmente agora que resolveram fazer estas comédias enlatadas sem graça alguma.
    Parceria aceita, vou linkar seu belo blog lá tb.
    Já assistiu as Aventuras de Pi? Magnífico, não tenho palavras para este filme!
    Abraço!
    __
    http://algunsfilmes.blogspot.com.br/

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  5. Lamentei pela impossibilidade de indicação para o Palhaço, não somente porque o Brasil está há mais de uma década sem nomeação ao prêmio de filmee estrangeiro, mas principalmente pelo fato de Selton Mello resgatar o sentimento do filme NA ESTRADA, de Federico Fellini. Até hoje surpreende quanto drama pode haver num circo - e este paradoxo do indivíduo que faz rir mas não é feliz, apesar de antigo, ainda rende belíssimas histórias.
    Parabéns pelo seu espaço de cinema (vejo que você também alterna resenhas sobre séries, infelizmente é um pecado meu não me envolver mais com elas). A partir de agora voltarei mais vezes e já adicionei seu blog na minha lista.

    Um abraço!

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    1. Weiner é uma grande honra ter sua presença, agradeço muito.

      As séries são o novo mau da a juventude, mas cada vez mais atores e diretores se voltam para esse gênero, que está enriquecendo em qualidade a cada dia.

      Volte sempre, é uma honra ter cada um de vocês por aqui!

      Grande Abraço!

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