O
Poderoso Chefão é um
dos maiores filmes de todos os tempos. Por este motivo o escolhi para ilustrar
esta que é a centésima postagem do Cinematógrafo.
O filme foi baseado no livro homônimo escrito por Mario Puzo e dirigido por
Francis Ford Coppola e está praticamente em todas as listas respeitáveis sobre
os melhores filmes de todos os tempos, geralmente entre os cinco primeiros,
quando não em primeiro lugar. The
Godfather (O Poderoso Chefão no
Brasil; O Padrinho em Portugal) nos apresenta
ao violento e traiçoeiro mundo da máfia italiana que migrou para os Estados
Unidos e dominou o mercado de jogos de azar, entrando mais tarde no mundo das
drogas. Paradoxalmente a máfia, mais uma vez, é mistificada, mas em prol da
humanização do capitalismo.
Don Vito Corleone (Marlon Brando)
permanece em seu escritório durante o casamento da filha Connie (Talia Shire),
verão de 1945, em sua sala apenas ele e seu consigliere
Tom Hagen (Robert Duvall), vez ou outra adentram a sala, amigos ou conhecidos,
agradecendo ou solicitando ajuda. Postado com elegância em sua cadeira de
madeira maciça revestida com confortável estofamento, Don passa os olhos
vagarosamente sob seu interlocutor, atrás de sua mesa rústica e envernizada em
um tom quase paradoxal reina soberba na sala, vestido em seu terno escuro,
impecável, adornado com uma rosa vermelha, recém colhida, quase é possível
sentirmos seu aroma tamanha a vivacidade expressa pela fotografia de Gordon
Willis, sente-se desconfortável perdendo o casamento de sua única filha, mas
nos ensina sua primeira lição: jamais misture família com trabalho.
Quase como um Freud divino ele ouve
cada um e lhes concede seus desejos, a rosa em seu lado esquerdo do terno, sobrepondo
o coração, demonstra que a ternura mantem viva a fraternidade, a família deve sempre
estar em primeiro lugar, mesmo nos negócios, mas nunca ao contrário. Quase que
como um ritual medieval que não tolera desonra e traição, um deslize pode
custar a vida e a lealdade precede os tesouros, dessa forma a estrutura
familiar empreendedora da máfia castiga como os senhores feudais e enriquece
como o mais proeminente paraíso capitalista.
Michael Corleone
Em uma analogia à parábola bíblica em
que o bom filho à casa torna, Michael Corleone (Al Pacino), herói de guerra,
volta ao seio familiar após seu pai, Don, ser baleado. Ele que nunca se
inveterara nos negócios familiares, tem no desejo de vingança a gana motivadora
para se tornar o divisor de águas da história de Mario Puzo. Sua ascensão passa
também por outro golpe do destino e com ajuda de seu temperamento frio e
calculista, consegue liderar a família. É o extremo oposto de seu irmão, Sonny
(James Caan), esquentado, impulsivo e inconsequente é o elo utilizado pelo
roteiro para muitos pontos da trama. A história escrita por Puzo é uma das
melhores já vistas na telona e venceu o Oscar de melhor roteiro adaptado em
1973. Os elementos de ligação misturados com o acaso e a força do destino,
desenrolam uma teia de acontecimentos e fatos coroados com uma conclusão
mágica.
Kay Adams (Diane Keaton) e Michael Corleone (Al Pacino)
O
Poderoso Chefão foi
um celeiro de astros, o longa tinha um desconhecido chamado Al Pacino, que ganhou o papel
de Michael Corleone justamente por não ser famoso, era o desejo do diretor. A
namorada de Michael, Kay Adams também era desconhecida, anos mais tarde ela
viria a se tornar a musa de Woody Allen: Diane Keaton. Outro filho de Don
Corleone, Fredo, foi interpretado por John Cazale que morreu de câncer aos
quarenta e dois anos em 1988, na época estava noivo de Meryl Streep e acabara
de findar as filmagens do filme que seria seu maior sucesso O Franco Atirador. Cazale participou de
apenas cinco filmes e todos estão presentes no Top 250 do IMDB, fato único no
universo dos atores. Talia Shire é irmã de Coppola e também ganhou projeção ao
viver a filha de Don, Connie Corleone.
Marlon Brando como Vito Corleone
Revelações à parte, o que arrebenta no
filme, com o perdão do linguajar chulo, é a atuação de Marlon Brando, ele que
não era nenhum novato, já possuía até um Oscar, valeu-se de sua experiência e
adotou trejeitos únicos para compor o personagem, foi um dos mais influentes e
reverenciados atores de todos os tempos, o diretor Martin Scorsese afirmou que
existe o cinema antes de depois de Brando, tamanha importância que o ator
possui para a cinematografia mundial. Por seu papel de Don Vito Corleone ele
recebeu seu segundo Oscar de melhor ator. Além dos prêmios de roteiro e ator The Godfather foi eleito o melhor filme
pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Ao todo foram dez indicações incluindo uma rara tríplice indicação de atores coadjuvantes para James Caan, Al Pacino e Robert Duvall, perdendo para Joel Grey por seu papel em Cabaret.
Sonny, Vito, Michael e Fredo Corleone
A lembrança mais antiga que possuo de O Poderoso Chefão é musical. Lembro-me de ter ouvido um solo de guitarra quando era adolescente, belamente executado por
Slash da banda de hard rock Guns N’ Roses
em um memorável show realizado em Tóquio Japão em 1992. O cinema ainda era alheio à minha
vontade, mas aquele motivo sonoro me acompanhou do mundo musical até o incrível
e feliz reencontro no mundo audiovisual de The Godfather. O italiano Nino Rota foi indicado ao Oscar de melhor trilha
sonora, mas foi substituído em cima da hora após os jurados descobrirem que a
melodia já havia sido utilizada no filme Fortunella (1957) dirigido por Eduardo de Filippo e roteirizado por
Federico Fellini. Apesar da polêmica isso não impediu que a canção de Rota
vencesse as demais premiações às quais concorria, Globo de Ouro e Bafta,
inclusive o Grammy de melhor trilha sonora. Se a canção foi a única vitoriosa
do Oscar inglês, o Bafta, o Globo de Ouro foi mais generoso com esse mítico
filme, premiando-o como melhor filme, melhor diretor, para Coppola, melhor ator
dramático, Marlon Brando e melhor roteiro, para Mario Puzo e Coppola.
Tema de O Poderoso Chefão com Guns N' Roses
Nem apologia à máfia tampouco
protecionismo familiar, O Poderoso Chefão
é a enigmática Monalisa
cinematográfica.
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