O Brasil nunca levou nenhuma estatueta
do prêmio mais importante e tradicional do cinema, o Oscar. Foram várias
indicações e muita expectativa, em alguns momentos nossos filmes foram
superestimados, em outros podemos dizer que fomos subestimados. Se por um lado
nunca levamos um Oscar o prêmio mais charmoso do cinema distribuído pelo
Festival de Cannes, na França, já foi dado a um filme brasileiro e é com ele
que começa nossa história no prêmio de melhor filme estrangeiro.
Cena de O Pagador de Promessas |
Em 1963, quando o vencedor da Palma de
Ouro em Cannes, O Pagador de Promessas,
foi indicado para o prêmio de melhor filme estrangeiro, víamos pela primeira
vez uma produção nacional figurar entre os melhores do ano. Realizado em 1962
por Anselmo Duarte que adaptou a obra de Dias Gomes para o cinema, O Pagador de Promessas é um dos grandes
sucessos do cinema brasileiro e o primeiro filme a ser indicado ao prêmio de
melhor filme estrangeiro. O roteiro narra como Zé do Burro, vivido por Leonardo
Vilar, paga uma promessa carregando uma cruz, mas é proibido de entrar com ela
na igreja devido à natureza de sua penitência: a cura de seu burro. Infelizmente
a estatueta ficou com o francês Sempre
aos Domingos de Serge Bourguignon.
Vinte anos antes o Brasil via seu nome
surgir no altar do cinema mundial com o filme Brazil de 1944 dirigido por Joseph Santley, teve três indicações ao
Oscar, uma delas de melhor canção original para o brasileiro Ary Barroso pela
música Rio de Janeiro. O brasileiro
concorreu com outras doze canções e o prêmio foi para James Van Heusen e Johnny
Burke pela canção Swinging on a Star do
filme Going my Way.
Apenas trinta e três anos depois da
primeira indicação a melhor filme tivemos um longa brasileiro figurando entre
os melhores do mundo. Em 1996 O Quatrilho
representou nosso país no Oscar. Dirigido por Fábio Barreto e baseado no livro
homônimo de José Clemente Pozenato, passa-se no ano de 1910 e conta a história
de dois casais cujas esposas se apaixonam pelo marido da outra. Com um elenco
de atores renomados como Patrícia Pillar, Glória Pires e Gianfrancesco
Guarnieri, perdeu a estatueta para o holandês A Excêntrica Família de Antônia da diretora Marleen Gorris.
O que é Isto Companheiro? |
Dois anos depois, em 1998, foi a vez
de O que é Isto Companheiro? dirigido
por mais um membro da família Barreto o irmão de Fábio, Bruno Barreto e baseado
parcialmente no livro homônimo de Fernando Gabeira. Com um elenco estelar que
contou com Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Luiz Fernando Guimarães, Matheus
Nachtergaele e as participações especiais de Fernanda Montenegro e Alan Arkin
no papel do embaixador Charles Burke Elbrick. Ele foi sequestrado por um grupo
militante de esquerda, entre os membros o próprio Fernando Gabeira e Franklin
Martins que lutavam contra a ditadura e pretendiam trocar o embaixador por
companheiros presos. O prêmio foi novamente para a Holanda com o filme Caráter de Mike Von Diem.
No ano seguinte passamos muito perto
da estatueta com duas indicações, Central
do Brasil, de Walter Salles, como melhor filme e Fernando Montenegro como melhor atriz. O
ótimo A Vida é Bela do italiano
Roberto Benigni ficou com o prêmio de melhor filme estrangeiro e o
superestimado Shakespeare Apaixonado levou
o prêmio de melhor atriz que ficou com Gwyneth Paltrow, uma das maiores
injustiças da história do Oscar. A atuação de Fernanda Montenegro que
interpretou uma mulher que escrevia cartas para analfabetos na Estação Central
do Brasil foi estupenda, ela entregou-se de corpo e alma ao papel e emocionou o
país. Conquistou o Urso de Ouro em Berlim e foi indicada também ao Globo de
Ouro.
Caetano Veloso e Lila Downs |
Em 2001 tivemos nossa primeira
indicação a curta metragem com Uma História
de Futebol de Paulo Machline, inspirado em um episódio da infância do Rei
Pelé. Dessa vez perdemos para o curta mexicano Quiero Ser de Florian Gallenberger. Em 2003 tivemos Caetano Veloso
indicado pela parceria com a mexicana Lila Downs na canção Burn it Blue do filme Frida.
Mais uma vez o prêmio não veio para o Brasil, o vencedor foi Eminem pela canção
Loose Yourself do filme 8 Mile – Rua das Ilusões.
2004 foi o
ano do Brasil no Oscar com Cidade de Deus
que concorreu em quatro categorias, melhor diretor com Fernando Meirelles,
melhor edição, roteiro adaptado e fotografia. Era o ápice do cinema nacional
que dava sinais de melhora no âmbito internacional, no entanto não levamos
nenhum dos quatro prêmios. O longa de 2002 não foi indicado à premiação de
2003, a distribuidora Miramax, que na época pertencia ao conhecido lobista de
Hollywood Harvey Weinstein, provocou o relançamento do longa nos Estados Unidos
acompanhado de uma grande estratégia de marketing e em 2004 Cidade de Deus figurou entre os
indicados ao Oscar. O filme que conta a rotina da favela Cidade de Deus e teve
um páreo duro: O Senhor dos Anéis – O
Retorno do Rei, de Peter Jackson, que abocanhou todos os onze prêmios aos
quais foi indicado, incluindo melhor direção, edição e roteiro adaptado. A
estatueta de melhor fotografia ficou com Mestre
dos Mares – O Lado mais Distante do Mundo. Apesar de não ser uma produção
brasileira A Aventura Perdida de Scrat
do brasileiro Carlos Saldanha concorreu ao Oscar de melhor curta de animação
também nessa edição, perdendo para o australiano Harvie Krumpet.
Confira A Aventura Perdida de Scrat:
Em 2011 tivemos
a primeira indicação por documentário para Lixo
Extraordinário co-produzido por brasileiros e britânicos, mais uma vez o
prêmio não veio, o vencedor foi Inside
Job. Nessa edição poderíamos ter Tropa
de Elite 2, longa que abordou a corrupção em diversos meios, tanto no
social quanto no político, ironicamente por uma questão política o fraco longa Lula, o Filho do Brasil foi o escolhido
para concorrer a uma vaga ao Oscar, por motivos óbvios não foi escolhido. No
ano seguinte o filme de José Padilha ainda tentaria uma vaga, mas foi excluído
tendo como base a data de seu lançamento. Mas ainda tivemos Carlinhos Brown demonstrando
que a música é um de nossos fortes, ele concorreu em 2012 pela canção Real in Rio composta em parceria com
Sérgio Mendes e Siedah Garret para a animação de Carlos Saldanha Rio. Mesmo tendo apenas um concorrente,
a canção Man or Muppet do filme The Muppets, o prêmio nos escapou mais
uma vez.
Carlinhos Brown no tapete vermelho |
Para 2013 o genial O Palhaço de Selton Mello participou das
eliminatórias, mas não figurou entre os finalistas, seria um páreo quase
impossível com o franco-austríaco Amour. Para
2014 temos O Som ao Redor e A Busca estrelando Wagner Moura, outras
produções ainda por vir e a expectativa de figurarmos entre os vencedores do
prêmio mais importante do cinema.
E que ele esteja com vocês!
Muito boa a análise. Um dos problemas que eu vi recentemente se dá em determinadas escolhas para filmes. Como você citou, estranho tentar surfar na popularidade internacional do Lula e indicar um filme sobre ele - que, confesso, evitei de assistir. Outra escolha duvidosa, para mim, foi a de Dois Filhos de Francisco. Filme bom, emocionante, mas que exigia um conhecimento prévio da dupla, principalmente por conta do final.
ResponderExcluirO Som ao Redor recebeu muitas críticas positivas, aqui e fora do país. Por mais que o ano ainda tenha muito a vir, é um forte favorito, ainda mais que a categoria de filme estrangeiro permite mais experimentações.
O Som ao Redor surge como favorito sim, muito se tem falado dele fora do país e essa popularidade é muito importante para a escolha dos indicados ao Oscar. Concordo com seu ponto de vista, as experimentações são bem vindas nesta categoria do Oscar.
ExcluirAbraço!
Gosto do Oscar e acho perfeito sua visão. Porém, acredito que os jogos por trás do prêmios são mais importantes que a qualidade do filme.
ResponderExcluirJamais perdoô falhas graves, como Taxi Driver não ter sido vencedor do Oscar de Melhor Filme.
abs
Lula ter sido o filme nacional como indicado.....mostra o que eu dizemos, ou seja, o problema começa lá e termina aqui......jogos políticos por debaixo do pano cinematográfico.
ResponderExcluirabs
Dois Filhos de Francisco eu evitei ver, mais uma escolha duvidosa.
ResponderExcluirRenato, os jogos políticos estão cada vez mais presentes em tudo quanto é premiação, no entanto é preciso um pouco mais, como a Miramax fez com Cidade de Deus, creio que esse foi o erro do filme Lula, apenas apostaram nele, mas o marketing brasileiro estava todo voltado para Tropa de Elite. É uma pena.
Taxi Driver... não gosto nem de lembrar, ainda estou mordido com a última edição do Oscar, Jennifer Lawrence podia ter esperado Riva não!
Abraço!