Frankenweenie é um trabalho intimista
de Tim Burton que de certa forma se caracteriza como uma espécie de autobiografia
social e psicológica. Trata-se de uma refilmagem de um de seus primeiros
trabalhos, o curta de mesmo nome de 1984 lançado também pela Disney e que
causou a demissão de Burton dos estúdios. Curiosamente, anos depois, o mesmo
Burton realizaria o filme mais rentável da Disney até então, o fabuloso Alice no País das Maravilhas. Com ar
saudoso e com inúmeras referências aos filmes lado B da década de 20 e 30,
Frankenweenie encarna um Frankenstein do século XXI escrito por uma Mary
Shelley cientificista rendida ao luto das imagens do passado.
Burton fez questão de que
Frankenweenie fosse realizado com a técnica de stop motion e em preto e branco,
ele levou tão a sério seu desejo que abandonaria o projeto caso fosse
contrariado. Além de Frankenweenie de 1984 vemos a influência de Edward Mãos de Tesoura e suas esculturas
excêntricas ganhando vida, o cenário dá a impressão de que Victor é um Edward
maduro e mais seguro de seus anseios. No início da década de 90 filmes como Edward eram considerados Lado B, Tim
Burton a deixar de lado as produções comercias para realizar esta obra
emocional mostra que hoje tais filmes são mais normais ou menos estranhos que a
maioria, houve uma troca de tendências. Victor é visto pelos pais como estranho
e logo surge a imagem de seus colegas que conseguem ser ainda mais excêntricos
do que ele.
Frankenweenie não foge aos propósitos
Disney não tomando partido de nenhum dos lados, esse foi o maior limitador do
roteiro escrito por John August (Fantástica
Fábrica de Chocolates), por outro lado vemos que a preocupação maior de
Burton era demonstrar o universo solitário dos amantes da nostalgia esquecida,
os que vivem à margem da cultura social. Burton parece nos dizer como foi sua
infância de fã de filmes clássicos e opiniões extravagantes, mas que acima de
tudo preserva dentro de si uma paixão verdadeira por tudo que faz. Victor
realiza pequenos filmes caseiros, todos estrelados por seu cão Sparky, neles
vemos a referência aos primeiros filmes de terror. Burton se aproxima da
essência do cinema realizando um stop motion como se fosse uma filmagem do
início do século passado.
Professor Rzykruski |
A ambientação gótica com traços 3D
trouxeram uma inventividade única. O desenvolvimento dos personagens foi
excelente, cada um possui suas características bem definidas e história
própria. Destaque para a menina esquisita (novidade?) dona do gato Mrs.
Whiakers que representa fielmente as características góticas, com rosto pálido
e lápis preto sobre os olhos, trajes sombrios e obscuros. O professor Sr.
Rzykruski (Martin Landau) é inspirado em Vincent Price, Nassor em Boris Karloff,
o sotaque carregado do leste europeu intelectualiza ainda mais o personagem,
que me lembrou o professor do filme TheWall, clássico do Pink Floyd, representado pelo boneco intransigente que
impõe uma educação enlatada, mas isso não tem nada a ver com o filme de Burton.
Confira o trailer:
Frankenweenie é uma história
emocionante, principalmente nos primeiros minutos, mas que se perde bastante no
fim, a primeira metade é de Tim Burton a segunda é claramente da Disney. O mais
interessante é ver o diretor de volta às raízes que lhe renderam fama e em grande
forma.
Que o cinema esteja com vocês!
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