20 de outubro de 2013

O Som ao Redor (2013)

Já dizia a canção: “Não existiria som se não fosse o silêncio*.” Utilizando essa fórmula Kleber Mendonça Filho lança seu primeiro filme de ficção. Comparar O Som ao Redor a obras de ficção científica que se valem do som e de imagens não é exatamente a façanha que o diretor pernambucano alcançou. Ela vai mais além. O filme é alçado como uma das melhores produções brasileiras dos últimos anos. Está entre as dez produções elencadas pela respeitável lista do The New York Times de melhores filmes do ano. Ao lado de produções como Lincoln, Django Livre e Amour. Ganhador de inúmeros prêmios e elogios dos mais distintos segmentos culturais, tantos que seria preciso muitas páginas para citar, enfim, O Som ao Redor é um dos favoritos às indicações de melhor filme estrangeiro do Oscar 2014. E se não agrada a gregos troianos em um país de cegos, ao menos renova as forças de nosso cinema tão saturado de comédias vazias, mas que enchem salas de cinema e nos deixam mais burros a cada nova exibição.

Kleber Mendonça Filho
Kleber Mendonça Filho abordou os sons do filme como se fossem obras da paranoia humana, mas que na realidade estão presentes em nossa rotina de forma silenciosa. Essa quebra de paradigma é um dos maiores méritos do filme, além, é claro da fabulosa história criada por ele. Em determinados momentos do longa, principalmente entre uma parte e outra, é possível compararmos o filme brasileiro às produções de Quentin Tarantino, que sempre fecha as partes com chave de ouro. O que não é diferente de O Som ao Redor que respeita a intelectualidade do espectador e possui um desfecho tão fascinante que nos petrifica ao ponto do êxtase. Simplesmente fantástico.

Irandhir Santos (centro) como Clodoaldo
Um bairro de classe média de Recife recebe a suspeita visita de vigilantes autônomos que oferecem seus serviços aos moradores. Cheio de suspense e mistério O Som ao Redor nos pega pela mão e nos apresenta a cada uma das famílias retratadas na obra. Bia (Maeve Jinkings) se desdobra com seus dois filhos e o cão que não a deixa dormir, ela sofre com a insônia e inicia a paranoia sonora do filme. Irandhir Santos vive Clodoaldo, líder dos vigilantes que é um dos elos de cada uma das histórias contadas na vizinhança. Com a proposta de vigiar as ruas ele passa de casa em casa oferecendo seus serviços, conhece João (Gustavo Jahn) e seu avô Francisco (W. J. Solha) dono de inúmeras casas no bairro. As histórias passeiam em nossa vista e se unem em um final perturbador e surpreendente. Revelando extrema maturidade cinematográfica o ex-crítico de cinema Kleber Mendonça Filho criou um quebra-cabeça que se une na última cena mostrando que cada peça tinha seu papel e interfere de forma determinante para o desfecho da trama.

O Som ao Redor é um divisor de águas para o cinema brasileiro que vive um momento de ascensão e maturidade com nomes como Kleber Mendonça Filho, Eryk Rocha, Selton Mello e Flávia Rocha, e dá sinais de um futuro brilhante e iluminado, já dizia a canção após longo período de trevas que “não haveria luz se não fosse a escuridão*.” O cinema é mesmo assim, dias de luz e dias de escuridão, dias de silêncio e outros de puro som!

E que o cinema esteja com vocês!

*CertasCoisas, composta por Lulu Santos.



Confira o trailer:



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