Já dizia a canção: “Não existiria som se não fosse o silêncio*.”
Utilizando essa fórmula Kleber Mendonça Filho lança seu primeiro filme de
ficção. Comparar O Som ao Redor a
obras de ficção científica que se valem do som e de imagens não é exatamente a
façanha que o diretor pernambucano alcançou. Ela vai mais além. O filme é
alçado como uma das melhores produções brasileiras dos últimos anos. Está entre
as dez produções elencadas pela respeitável lista do The New York Times de melhores filmes do ano. Ao lado de produções
como Lincoln, Django Livre e Amour. Ganhador de inúmeros prêmios e
elogios dos mais distintos segmentos culturais, tantos que seria preciso muitas
páginas para citar, enfim, O Som ao Redor
é um dos favoritos às indicações de melhor filme estrangeiro do Oscar 2014.
E se não agrada a gregos troianos em um país de cegos, ao menos renova as
forças de nosso cinema tão saturado de comédias vazias, mas que enchem salas de
cinema e nos deixam mais burros a cada nova exibição.
Kleber Mendonça Filho |
Kleber Mendonça Filho abordou os sons
do filme como se fossem obras da paranoia humana, mas que na realidade estão
presentes em nossa rotina de forma silenciosa. Essa quebra de paradigma é um dos
maiores méritos do filme, além, é claro da fabulosa história criada por ele. Em
determinados momentos do longa, principalmente entre uma parte e outra, é
possível compararmos o filme brasileiro às produções de Quentin Tarantino, que
sempre fecha as partes com chave de ouro. O que não é diferente de O Som ao Redor que respeita a
intelectualidade do espectador e possui um desfecho tão fascinante que nos
petrifica ao ponto do êxtase. Simplesmente fantástico.
Irandhir Santos (centro) como Clodoaldo |
Um bairro de classe média de Recife
recebe a suspeita visita de vigilantes autônomos que oferecem seus serviços aos
moradores. Cheio de suspense e mistério O
Som ao Redor nos pega pela mão e nos apresenta a cada uma das famílias
retratadas na obra. Bia (Maeve Jinkings) se desdobra com seus dois filhos e o
cão que não a deixa dormir, ela sofre com a insônia e inicia a paranoia sonora do
filme. Irandhir Santos vive Clodoaldo, líder dos vigilantes que é um dos elos
de cada uma das histórias contadas na vizinhança. Com a proposta de vigiar as
ruas ele passa de casa em casa oferecendo seus serviços, conhece João (Gustavo
Jahn) e seu avô Francisco (W. J. Solha) dono de inúmeras casas no bairro. As
histórias passeiam em nossa vista e se unem em um final perturbador e
surpreendente. Revelando extrema maturidade cinematográfica o ex-crítico de
cinema Kleber Mendonça Filho criou um quebra-cabeça que se une na última cena
mostrando que cada peça tinha seu papel e interfere de forma determinante para
o desfecho da trama.
O
Som ao Redor é um
divisor de águas para o cinema brasileiro que vive um momento de ascensão e
maturidade com nomes como Kleber Mendonça Filho, Eryk Rocha, Selton Mello e
Flávia Rocha, e dá sinais de um futuro brilhante e iluminado, já dizia a canção
após longo período de trevas que “não
haveria luz se não fosse a escuridão*.” O cinema é mesmo assim, dias de luz
e dias de escuridão, dias de silêncio e outros de puro som!
E que o cinema esteja com vocês!
*CertasCoisas, composta por Lulu Santos.
Confira o trailer:
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