360 é um filme cíclico, como o próprio
nome sugere. Assemelha-se a Babel de 2006, neste o fato principal era fruto de
acontecimentos anteriores, em 360 os fatos não são interligados diretamente,
mas indiretamente as seis histórias se cruzam em algum momento da trama que é
falada em sete idiomas diferentes e teve como locação cinco países. Abordando o
comportamento humano focado nos relacionamentos, 360 enquadra em cada um dos
protagonistas algum momento de decisão e reflexão, arrebatando o público com a
proximidade da vida real.
Terceiro filme internacional de
Fernando Meirelles, após O Jardineiro Fiel (2005) e Ensaio sobre a Cegueira
(2008), ele disse que 360 foi seu filme mais simples, os papéis são tranquilos
e não oferecem quase nenhuma ação, é completamente voltado para o lado
comportamental. 360 foi muito criticado e Meirelles chegou a afirmar que o
filme era 80% do roteirista Peter Morgan e ele próprio não interferiu tanto no
projeto.
Após assistir 360 podemos concluir que,
não de uma forma geral, mas de uma forma genérica, com o perdão do trocadilho, as
relações civis oficializadas, seja em órgãos competentes ou mesmo pela convivência
sob o mesmo teto, são as mais propícias às traições. Seria pelo conforto da
certeza de confiança do parceiro ou pelo simples sentimento de desconforto
perante a situação. Casais com relacionamentos casuais são mais comprometidos
como casais do que os que se casam. Não que estes sejam descomprometidos, mas
se comprometem com outras causas que não o dualismo matrimonial. 360 mostra a
víscera da traição em situações banais e complexas. Vai do céu ao inferno e
completa seu giro dando início, meio e fim a cada história.
Maria Flor |
As atuações não são primordiais e sim,
como já citei: comportamentais. Destaco três personagens que interagem de forma
direta no filme. A bela brasileira Maria Flor, que interpreta Laura, casada com
Rui (Juliano Cazarré) e residente na Inglaterra que após descobrir a traição de
seu marido resolve voltar ao Brasil, em uma mensagem gravada expõe sua
descoberta e seus planos. Foi um momento de pura espontaneidade e com diálogos
em português, talvez por isso sua atuação tenha sido fria e morta, mas se redime nas próximas cenas dialogadas em
inglês destacando-se pela graciosidade e leveza.
Anthony Hopkins e Maria Flor |
Ela contracena com Anthony Hopkins no início da viagem ao Brasil. A espontaneidade expressada por ele é assustadora. Maria
Flor disse que ao entrar no set de filmagem Hopkins estava animado com o papel
por se tratar de seu personagem mais real, disse ainda que alguns pontos da
trama eram semelhantes a acontecimentos de sua vida. A veracidade com que atuou
e os olhares vagos entre uma fala e outra coroam uma carreira brilhante e
respeitável. O que me deixa mais ansioso em relação a Hitchcock que estreia este
ano tendo Anthony como o gênio inglês do suspense.
Ben Foster |
Após passar por essa relação quase que
de pai para filha, Maria Flor se rebela contra seus próprios conceitos morais e
seduz um homem recém saído da cadeia, Tyler, interpretado por Ben Foster, que
luta contra seu desejo desvairado enraivecido com seu instinto.
Jude Law e Rachel Weisz formam o casal
que se torna o retrato da trama, passando por momentos de crises de identidade,
que após 360º e altos e baixos que a montanha russa da vida passa, terminam
onde começaram: em um relacionamento fundado no amor e companheirismo. Todas as
histórias são expostas e encerradas, sem deixar pontas soltas.
Hopkins Weisz Law |
A cena memorável dá-se no momento em
que Laura entra no avião de volta ao Brasil, no corredor podemos ver um senhor
distinto sentado à sua poltrona com um garotinho, como se Hannibal voltasse
ao avião para se redimir da cena ultrajante, como foi descrita pelo próprio
Hopkins. Que algumas cenas a frente recitaria um texto
apoético que em sua voz intimista e olhar introspectivo romantizaram um
sentimento platônico ruflando uma filosofia poética. Afinal, só temos uma vida,
quantas chances teremos?
Confira o trailer:
“Um sábio disse uma vez que se há uma
bifurcação na estrada, siga-a. Mas esqueceu de dizer qual caminho seguir e quem
sabe um dia as decisões que tomamos nos levem de novo ao mesmo lugar...”
E que o cinema esteja com vocês!
estranho o Meirelles dizer que o filme é 80% do roteirista... mesmo com as criticas negativas, tenho interesse...
ResponderExcluirUm dos filmes de 2012 que acabei não conferindo. Lembro que dividiu a crítica ao redor do mundo - os brasileiros mesmo colocaram o filme entre a cruz e a espada. Gosto muito do Meirelles, espero ver uma direção de nível aqui (mesmo que ele tenha dito ser 80% da qualidade fruto do trabalho de Peter Morgan, um diretor que me ganhou 100% em A Rainha).
ResponderExcluirEstá em home video já, vou conferir em breve (o elenco me atrai muito, especialmente a musa Rachel Weisz).
Abraços!
Peter Morgan é roteirista, não diretor - por sinal, quem está igualmente ótimo é o DIRETOR de Arainha. Stephen Frears.
ResponderExcluirPois é, Bruno e Weiner, o Meirelles parece conformado com uma espécie de codireção nesse projeto.
ResponderExcluirMas é um filme que vale a pena, não é mais do mesmo!
Abraço