Amour não fala estritamente do amor,
mas de como reagimos à autoflagelação em relação ao sentimento para com o ente
amado. É um calmo drama que às vezes nos remete a um thriller psicológico sem
precedentes. Causa desconforto com as imperfeições humanas individualistas e
muitas vezes necessárias. É um soco no estômago que nos confronta com nossos
valores morais e éticos. Até que ponto Amor é amor e até que ponto decidimos
amar? Esta é a condição da felicidade ou ela é incondicional?
Haneke e a Palma de Ouro de 2012 |
Vencedor da Palma de Ouro de Cannes em
2012 e do Globo de Ouro de 2013, Amour é o grande favorito para o Oscar de
melhor filme estrangeiro. O diretor e roteirista Michael Haneke construiu um
drama denso e sólido que mostra a evolução dos protagonistas quadro a quadro.
As câmeras posicionadas de forma estática dão a sensação de que somos crianças
observando os movimentos sem entender ao certo o que significam e presos à
simples admiração de cada passo do casal Anne e Georges, vividos respectivamente
por Jean-Louis Trintignant e por Emmanuelle Riva.
Haneke, Riva e Trintignant |
O andamento do filme faz com que nos
tornemos passageiros de um veículo que oscila da mesma forma que nossas emoções
e lucidez variam com o passar de nossos anos. O filme apesar de ser uma
coprodução de França, Áustria e Alemanha, mostra o bom momento dos franceses.
Depois do fenômeno de O Artista e anteriormente o belíssimo drama O Escafandro
e a Borboleta, já estamos nos acostumando com o sotaque francês nas telonas.
Amour desenvolve-se através de um
roteiro coeso que privilegia as transformações psíquicas, principalmente, de
Anne, que após sofrer um derrame se vê diante da irreversível tragédia da vida
e segura apenas do companheirismo de seu amado marido que demonstra todo seu
amor e ímpeto diante do improvável e inesperado dentro de uma relação longeva.
Georges e Anne |
Fitando a dificuldade de um
envelhecimento real que beira a loucura, Emmanuelle Riva foi indicada ao Oscar
de melhor atriz. Sua atuação é perturbadora e seu ótimo desempenho deve-se
muito ao contexto de Haneke e a seu companheiro de cena, o não menos talentoso
Trintignant. Haneke conhecido por causar inquietude no público, já recebeu a
Palma de Ouro por O Laço Branco e mostra logo nos primeiros minutos o tom lúgubre
do longa,deixando o caminho aberto para o desenvolvimento dos personagens e de
sua estreita relação com o mundo exterior e consigo mesmos.
A trivialidade com que o filme fora
realizado convence de que a simplicidade é a maior forma de sofisticação. A
trilha sonora é composta por um silêncio ensurdecedor que grita a promessas
esquecidas,os acordes ao piano soam como se as teclas fossem tocadas dentro de
nós, como madeira talhada e ornamentada para ser amigável a nossos olhos. O
filme se passa quase que por completo na casa do casal transportando-nos àquela
realidade quase sobrenatural a cada passo de suas reminiscências. A visão
intimista de Haneke escancara de forma visceral os votos de até que a morte nos
separe e os transforma em algo mais complexo do que uma eterna fidelidade
conjugal, tornando humano qualquer deus do amor.
Confira o trailer:
Que o cinema esteja conosco!
Como sempre, Michael Haneke dá um espetáculo. Em AMOR, sua visão deste sentimento pode até parecer deturpada e fatalista, mas as motivações do protagonista não podem ser encaradas de outra forma. Era amor.
ResponderExcluirAs duas cenas pesadíssimas (desfecho e momento em que Trintignant tenta alimentar a personagem de Riva) são especialmente dolorosas, mas o filme, como um todo, choca. Pela crueza, pela falta de emotividade, enfim. Um jeito único de ser fazer cinema. Parabéns ao Michael Haneke e ao seu ótimo elenco.
Pois é Weiner, eu não conhecia o trabalho dele e agora estou ansioso para assistir a Fita Branca!
ResponderExcluirAbraço!
Sou um fã acérrimo da filmografia do Haneke. Este "Amour" é sem dúvida um dos seus melhores filmes.
ResponderExcluirCumprimentos,
Rafael Santos
Memento mori
Pois é, todos que assistem a uma obra dele se dizem apaixonados, preciso ver meais filmes, cineastas como ele são difíceis de encontrar hoje em dia!
ExcluirAbraço!
Aconselho-te vivamente a explorá-lo a fundo. Já vi todos os seus filmes e tem obras que roçam a perfeição, nomeadamente "La Pianiste", "The Seventh Continent", "Funny Games" e "Benny's Video". Todos excelentes com uma linha condutora forte facilmente identificável neste autor.
ExcluirAbraço