11 de dezembro de 2012

O Cavaleiro das Trevas (2008)


Este é o primeiro filme do Batman que não leva seu nome no título (The Dark Knight). Seria um prenúncio de um vilão que se tornou herói, herói dos cinéfilos, herói de uma geração Cult rebelde que se pergunta: por que tanta seriedade? O vilão mais célebre dos quadrinhos, o Coringa, tornou-se imortal com a morte de Heath Ledger. Como não citar a frase de Harvey Dent: ou você morre como herói ou vive o bastante para se tornar vilão. Ele não viveu demais tampouco morreu antes da hora, o Coringa é absoluto!

Nietzsche
Nos primeiros minutos do filme ele dá o tom e o andamento da obra: eu acredito que o que não o mata o torna mais... estranho. Parodiando o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que desafiou o criador alegando que “Deus está morto”. Joker (piadista em tradução literal) riu da vida no Cavaleiro das Trevas e Ledger como Tony, em seu último filme, O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus, do não menos estranho Terry Gilliam, brinca com a morte, indo e vindo do mundo dos mortos, até que em fevereiro de 2008, após uma intoxicação acidental de medicamentos, ele não voltou. Aumentando o mito em torno do Coringa.

Heath Ledger
Existem algumas semelhanças entre Nietzsche e o Coringa. O alemão escondia uma cicatriz por baixo de seu bigode, enquanto o vilão da DC Comics utilizava uma máscara composta por três partes de silicone para esconder as cicatrizes de seu sorriso sarcástico e irônico.O Coringa busca demonstrar que nada do que é será e tudo que não é vai ser. Encarna o niilismo na forma de agente do caos, destruidor da moral e dos juízos de valor que nos guiam. A justiça não é cega por sua imparcialidade, mas por não ver o mau real que varre nosso ser. Já Nietzsche vocifera na Genealogia da Moral sobre o surgimento de nossos juízos e a decadência de nossas crenças. Ele acreditava que o homem era algo a ser superado, destruindo o falso ser interior que nos domina. O personagem de Heath Ledger instiga o visceral em seus oponentes, principalmente no Batman (Christian Bale) e em Harvey Dent (Aaron Eckhart). Ele busca desconstruir os valores éticos e morais por meio de uma ideologia de medo e terror. As transformações psíquicas e psicológicas causadas por esses agentes nos personagens aumentam a densidade do enredo e o clima de tensão que nos obriga a uma reflexão sobre nossos valores, eis que chegamos ao niilismo.

A cena que melhor expressa esse pensamento surge no fim do filme, quando em dois barcos distintos os tripulantes são responsáveis por decidir o destino das pessoas do outro barco. O peso da moral e dos valores incutidos por intermédio de uma cultura vã faz do Coringa um anarquista que se descreve como um cão que corre atrás de carros, sem saber o que fazer quando os alcançar. Seu niilismo fica mais evidente quando questionado por Harvey Dent sobre seu plano, ao que responde: eu pareço alguém que tem um plano? O único modo razoável de viver nesse mundo é sem regras destruindo o moralismo que protege os hipócritas encerrados em seu mundo adulto que é regido pelo capitalismo e poder. O Coringa não busca dinheiro, fama ou reconhecimento, quer ver apenas o circo pegar fogo.

Nietzsche escreveu em 1886 uma de suas obras mais importantes: Para Além do Bem e do Mal. E é ao som dessa dinamite que abre um novo caminho que o Coringa, juntamente com Batman, representam a luta pelo Bem e pelo Mal. Eu te matar? Diz Coringa a Batman. Não! Você me completa! Em uma alusão à eterna luta do bem contra o mal. Do lado do bem Bruce Wayne teve o suporte de seu mordomo Alfred Pennyworth (Michael Caine) compartilhando sua sabedoria e dando conselhos úteis a ele como uma figura paterna. Lucius Fox (Morgan Freeman) e o comissário Gordon (Gary Oldman) também fizeram parte desse time. Do lado negro da força o Coringa ouve apenas a voz que grita em sua cabeça, como um típico psicopata esquizofrênico, no entanto, sua estratégia, digna de um psicólogo do diabo, é capaz de desvirtuar até o incorruptível.

A trilha sonora composta pela mesma dupla de Batman Begins, Hans Zimmer e James Newton Howard, tem um tom de Psicose de Hitchcock, o que aumenta o suspense e tensão. O Cavaleiro das Trevas foi indicado a 8 Oscar’s, 7 técnicos e o aclamado Heath Ledger vencedor do segundo prêmio póstumo da história da premiação como melhor ator coadjuvante. O outro prêmio foi de melhor edição de som para Richard King.

O roteiro é adulto e a direção de Nolan é madura o oposto dos filmes de super-heróis dos quadrinhos. As clássicas tiradas do Homem de Ferro são substituídas por discussões existenciais. As constantes brigas de ego dos Vingadores são retratadas como batalhas do bem contra o mal e a manipulação da verdade por meio da opinião pública que faz com que questionemos se o certo não estaria errado e se o errado não seria apenas um equívoco hermenêutico. E se após toda essa inversão de valores o Coringa tornar-se seu herói, não se preocupe, afinal: why so serious?

Que o cinema esteja com vocês!

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