Este é o primeiro filme do Batman que
não leva seu nome no título (The Dark Knight). Seria um prenúncio de um vilão
que se tornou herói, herói dos cinéfilos, herói de uma geração Cult rebelde que
se pergunta: por que tanta seriedade? O vilão mais célebre dos quadrinhos, o
Coringa, tornou-se imortal com a morte de Heath Ledger. Como não citar a frase
de Harvey Dent: ou você morre como herói ou vive o bastante para se tornar
vilão. Ele não viveu demais tampouco morreu antes da hora, o Coringa é
absoluto!
Nietzsche |
Nos primeiros minutos do filme ele dá
o tom e o andamento da obra: eu acredito que o que não o mata o torna mais...
estranho. Parodiando o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, que desafiou o
criador alegando que “Deus está morto”. Joker (piadista em tradução literal)
riu da vida no Cavaleiro das Trevas e Ledger como Tony, em seu último filme, O
Mundo Imaginário do Doutor Parnassus, do não menos estranho Terry Gilliam,
brinca com a morte, indo e vindo do mundo dos mortos, até que em fevereiro de
2008, após uma intoxicação acidental de medicamentos, ele não voltou.
Aumentando o mito em torno do Coringa.
Heath Ledger |
A cena que melhor expressa esse
pensamento surge no fim do filme, quando em dois barcos distintos os
tripulantes são responsáveis por decidir o destino das pessoas do outro barco. O
peso da moral e dos valores incutidos por intermédio de uma cultura vã faz do
Coringa um anarquista que se descreve como um cão que corre atrás de carros,
sem saber o que fazer quando os alcançar. Seu niilismo fica mais evidente
quando questionado por Harvey Dent sobre seu plano, ao que responde: eu pareço
alguém que tem um plano? O único modo razoável de viver
nesse mundo é sem regras destruindo o moralismo que protege os hipócritas
encerrados em seu mundo adulto que é regido pelo capitalismo e poder. O Coringa
não busca dinheiro, fama ou reconhecimento, quer ver apenas o circo pegar fogo.
Nietzsche escreveu em 1886 uma de suas
obras mais importantes: Para Além do Bem e do Mal. E é ao som dessa dinamite
que abre um novo caminho que o Coringa, juntamente com Batman, representam a
luta pelo Bem e pelo Mal. Eu te matar? Diz Coringa a Batman. Não! Você me
completa! Em uma alusão à eterna luta do bem contra o mal. Do lado do bem Bruce
Wayne teve o suporte de seu mordomo Alfred Pennyworth (Michael Caine)
compartilhando sua sabedoria e dando conselhos úteis a ele como uma figura
paterna. Lucius Fox (Morgan Freeman) e o comissário Gordon (Gary Oldman) também
fizeram parte desse time. Do lado negro da força o Coringa ouve apenas a voz
que grita em sua cabeça, como um típico psicopata esquizofrênico, no entanto,
sua estratégia, digna de um psicólogo do diabo, é capaz de desvirtuar até o
incorruptível.
A trilha sonora composta pela mesma
dupla de Batman Begins, Hans Zimmer e James Newton Howard, tem um tom de
Psicose de Hitchcock, o que aumenta o suspense e tensão. O Cavaleiro das Trevas
foi indicado a 8 Oscar’s, 7 técnicos e o aclamado Heath Ledger vencedor do
segundo prêmio póstumo da história da premiação como melhor ator coadjuvante. O
outro prêmio foi de melhor edição de som para Richard King.
O roteiro é adulto e a direção de Nolan é madura o oposto dos
filmes de super-heróis dos quadrinhos. As clássicas tiradas do Homem de Ferro
são substituídas por discussões existenciais. As constantes brigas de ego dos
Vingadores são retratadas como batalhas do bem contra o mal e a manipulação da
verdade por meio da opinião pública que faz com que questionemos se o certo não
estaria errado e se o errado não seria apenas um equívoco hermenêutico. E se
após toda essa inversão de valores o Coringa tornar-se seu herói, não se
preocupe, afinal: why so serious?
Que o cinema esteja com vocês!
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