9 de fevereiro de 2013

Django Livre (2012)


Muito foi falado e escrito sobre Django. Uma expectativa enorme que inflamou a mídia quanto à qualidade do novo filme de Quentin Tarantino foi alardeada aos quatro ventos. Principalmente pelo fato do gênero faroeste ser inédito na filmografia do diretor. Depois de tanta poeira e tiros dados a todos os lados o filme estreou e desapontou alguns críticos. O desapontamento não está no filme em si, mas sim nas expectativas criadas. Baseado nos filmes de Sergio Leone da década de 60 e no próprio Django de 1966, os conhecidos western spaghetti possuem um abismo muito grande em relação aos filmes de ação de hoje em dia,mas em geral o filme é excelente, um dos melhores que vi nos últimos tempos! Depois de vingar as mulheres em Kill Bill e metralhar os nazistas em Bastardos Inglórios, Tarantino focaliza sua mira a favor dos negros e contra os atos de racismo nos Estados Unidos.

Sem dúvida é um de seus três melhores filmes. Pulp Fiction surgiu como uma revolução, não em termos cinematográficos, mas com um roteiro pouco convencional e impregnado de citações geniais, cenas que não seguiam a cronologia e a violência que se tornaria marca registrada de suas produções. O filme foi chocante – uma nova Laranja Mecânica - por nos colocar cara a cara de problemas que a cada dia estavam se tornando mais banais, a violência estava lá fora e não queríamos ver. Críticas surgiram em decorrência da incompreensão. Bastardos Inglórios surgiu para mudar a história de uma maneira cínica e irônica, outra marca registrada do perfil cinematográfico de Tarantino. Foi roubado pelo Oscar em uma cerimônia que viu no fraco Guerra ao Terror o melhor roteiro original e melhor filme, qualquer um dos nove concorrentes é mais filme que The Hurt Locker. Os filmes de Tarantino são taxados de violentos e repetitivos, mas apenas retratam o mundo a nosso redor, lidamos com cenas de violência o tempo todo, aliás, a violência é o principal meio de audiência dos veículos de comunicação e de uma forma que beira o absurdo.

Quentin Tarantino
Em Django Livre as críticas também surgiram o que irritou Tarantino que afirmou em uma entrevista para divulgar o filme que se cansou de justificar a violência presente em suas produções, ele quis retratar um momento importante para a história americana e ao mesmo tempo vergonhosa. No contexto histórico ele se situa antes da linha do tempo de Lincoln de Steven Spielberg, concorrente direto ao prêmio de melhor filme no Oscar 2013. Tarantino acreditou ser importante retratar como eram tratados os escravos naquela época e é até surpreendente como as pessoas reagem a esse tipo de “verdade”, lembro-me das críticas que Mel Gibson recebeu quando realizou A Paixão de Cristo com toda aquela violência contra Jesus.

DiCaprio ferido em cena de Django Livre
As atuações foram brilhantes. Leonardo DiCaprio na pele de um malvado e sádico dono de escravos, Calvie Candy, desempenhou um papel convicto e convincente.Em uma das cenas ele se fere ao bater em uma mesa no meio de uma discussão, a vivacidade do ato chega a arrepiar. “Sangue estava pingando da mão dele. Mas ele continuou. Ultrapassou todos os limites de [imersão no personagem]. Foi tudo muito intenso. Depois, ele teve que levar pontos”, afirmou a produtora Stacy Sher para a Variety. O austríaco Chistoph Waltz, vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel de Hans Landa em Bastardos Inglórios, foi indicado novamente por interpretar o dentista alemão caçador de recompensas, Dr. King Schultz, personagem carismático bem ao estilo de Clint Eastwood no último filme da trilogia dos dólares, Il Buono, il brutto, il cativo, na versão brasileira recebeu o nome de Três Homens em Conflito. Tarantino iria nomear Django Livre com uma clara referência a esse clássico do western spaghetti com o título: The Angel, the bad and the wise. Waltz teve um desempenho acima do esperado para seu papel, sua última cena no filme é digna de replay, de um brilhantismo que ofusca o reflexo de um diamante embebido pela luz do Sol.

Django e Dr. Schultz
Jamie Foxx na pele de Django encarnou um escravo que descobre o gosto da vingança e se embriaga em seu sangue doce. Tarantino escreveu esse papel pensando em Will Smith que revelou o motivo de não ter aceitado:“Eu estive perto de aceitar, porque este é um dos melhores roteiros que eu já li. Mas eu estava produzindo Homens de Preto 3. Mas o resultado vai ser incrível, este é um roteiro de gênio”. Broomhilda, interpretada por Kerry Washington, personifica o mito nórdico da heroína de Siegfried Brünhild, também conhecida como Sigrdrifa (estimuladora-da-vitória). É um dos primeiros filmes de Tarantino sem uma presença feminina de impacto e sem o habitual close nos pés de suas protagonistas, o silêncio de Broomhilda é mais uma referência à personagem nórdica, que aguarda silenciosa pelo resgate de seu herói. A cena em que ela é jogada no quarto e permanece deitada e quieta é semelhante à mitologia, na história Brünhild é jogada no círculo de fogo e fica deitada, até que Siegfried surge após matar o dragão e a resgata.

Confira o Trailer:


Samuel L. Jackson
Mas o grande destaque é Samuel L. Jackson, logo em sua primeira cena ele a toma para si, é quase impossível não notar sua presença, o modo como fala e se expressa em cena torna o momento de sua entrada mais esperado que o próprio desenrolar do filme. Ele interpreta o escravo Stephen, preconceituoso contra a própria raça ele é de longe o maior vilão do longa e toma de assalto todas as cenas em que participa.

O toque Tarantinesco está presente em todas as cenas, um misto de desgraça e ironia, gerando uma espécie de humor negro, a mais evidente surge nas últimas cenas quando um homem leva inúmeros tiros, mas permanece vivo e sem poder sair da linha de frente, os mais conservadores acharão a cena desnecessária, para os amantes da arte Tarantinesca ela é memorável. Django Livre foi indicado a cinco óscares, incluindo melhor filme, roteiro original e ator coadjuvante. A Academia não costuma premiar as obras de Tarantino da forma merecida, Django figura como favorito apenas ao prêmio de melhor roteiro pela crítica. É aguardar até 24 de fevereiro e conferir os vencedores!


Que o cinema esteja com vocês!

5 comentários:

  1. Concordo com seu belo texto.

    Amei Django e as ótimas atuações. Samuel L. Jackson é piada devido a atuação tão perfeita.


    Tarantino é acima dos poucos críticos que ainda enxergam seus filmes apenas como obras de violência.

    Abraços

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  2. de fatos as atuações foram excelentes e concordo com você... nosso bom e velho Samuel L Jackson rouba todas as cenas que aparece!

    Também acho que Bastardos merecia o Oscar, mas curti bastante Guerra ao Terror. É questão de gosto, mas acho que Preciosa, Um Sonho Possível, um Homem Sério e Avatar não mereceram suas indicações. Quando vi Avatar no IMAX 3D saí maravilhado, mas quando liguei no DVD aqui foi uma experiência bem chatinha.

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  3. de uma olhada no meu blog

    http://bolinhasemnome.blogspot.com.br/

    tirinhas sobre o deus bacon o demonio porco e um pouco sobre bolinhas

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  4. Django é um corte epistemológico, um marco na história do cinema. Podem fazer igual, mas, nem mesmo Tarantino, conseguirá fazer um filme melhor. Perfeito em todos os quesitos.

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