Muito foi falado e escrito sobre
Django. Uma expectativa enorme que inflamou a mídia quanto à qualidade do novo
filme de Quentin Tarantino foi alardeada aos quatro ventos. Principalmente pelo
fato do gênero faroeste ser inédito na filmografia do diretor. Depois de tanta
poeira e tiros dados a todos os lados o filme estreou e desapontou alguns
críticos. O desapontamento não está no filme em si, mas sim nas expectativas
criadas. Baseado nos filmes de Sergio Leone da década de 60 e no próprio Django de 1966, os conhecidos western
spaghetti possuem um abismo muito grande em relação aos filmes de ação de hoje em
dia,mas em geral o filme é excelente, um dos melhores que vi nos últimos tempos!
Depois de vingar as mulheres em Kill Bill e metralhar os nazistas em Bastardos
Inglórios, Tarantino focaliza sua mira a favor dos negros e contra os atos de
racismo nos Estados Unidos.
Sem dúvida é um de seus três melhores
filmes. Pulp Fiction surgiu como uma
revolução, não em termos cinematográficos, mas com um roteiro pouco
convencional e impregnado de citações geniais, cenas que não seguiam a
cronologia e a violência que se tornaria marca registrada de suas produções. O
filme foi chocante – uma nova Laranja Mecânica - por nos colocar cara a cara de
problemas que a cada dia estavam se tornando mais banais, a violência estava lá
fora e não queríamos ver. Críticas surgiram em decorrência da incompreensão. Bastardos Inglórios surgiu para mudar a história
de uma maneira cínica e irônica, outra marca registrada do perfil
cinematográfico de Tarantino. Foi roubado pelo Oscar em uma cerimônia que viu
no fraco Guerra ao Terror o melhor
roteiro original e melhor filme, qualquer um dos nove concorrentes é mais filme
que The Hurt Locker. Os filmes de
Tarantino são taxados de violentos e repetitivos, mas apenas retratam o mundo a
nosso redor, lidamos com cenas de violência o tempo todo, aliás, a violência é o
principal meio de audiência dos veículos de comunicação e de uma forma que
beira o absurdo.
Quentin Tarantino |
Em Django
Livre as críticas também surgiram o que irritou Tarantino que afirmou em
uma entrevista para divulgar o filme que se cansou de justificar a violência
presente em suas produções, ele quis retratar um momento importante para a
história americana e ao mesmo tempo vergonhosa. No contexto histórico ele se
situa antes da linha do tempo de Lincoln de
Steven Spielberg, concorrente direto ao prêmio de melhor filme no Oscar
2013. Tarantino acreditou ser importante retratar como eram tratados os escravos
naquela época e é até surpreendente como as pessoas reagem a esse tipo de
“verdade”, lembro-me das críticas que Mel Gibson recebeu quando realizou A Paixão de Cristo com toda aquela
violência contra Jesus.
DiCaprio ferido em cena de Django Livre |
As atuações foram brilhantes. Leonardo
DiCaprio na pele de um malvado e sádico dono de escravos, Calvie Candy,
desempenhou um papel convicto e convincente.Em uma das cenas ele se fere ao
bater em uma mesa no meio de uma discussão, a vivacidade do ato chega a
arrepiar. “Sangue estava pingando da mão dele. Mas ele continuou. Ultrapassou
todos os limites de [imersão no personagem]. Foi tudo muito intenso. Depois,
ele teve que levar pontos”, afirmou a produtora Stacy Sher para a Variety.
O austríaco Chistoph Waltz, vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel
de Hans Landa em Bastardos Inglórios,
foi indicado novamente por interpretar o dentista alemão caçador de
recompensas, Dr. King Schultz, personagem carismático bem ao estilo de Clint
Eastwood no último filme da trilogia dos dólares, Il Buono, il brutto, il cativo, na versão brasileira recebeu o nome
de Três Homens em Conflito. Tarantino
iria nomear Django Livre com uma
clara referência a esse clássico do western spaghetti com o título: The Angel, the bad and the wise. Waltz
teve um desempenho acima do esperado para seu papel, sua última cena no filme é
digna de replay, de um brilhantismo
que ofusca o reflexo de um diamante embebido pela luz do Sol.
Django e Dr. Schultz |
Jamie Foxx na pele de Django encarnou
um escravo que descobre o gosto da vingança e se embriaga em seu sangue doce. Tarantino
escreveu esse papel pensando em Will Smith que revelou o motivo de não ter
aceitado:“Eu estive perto de aceitar, porque este é um dos melhores roteiros
que eu já li. Mas eu estava produzindo Homens de Preto 3. Mas o
resultado vai ser incrível, este é um roteiro de gênio”. Broomhilda, interpretada por Kerry
Washington, personifica o mito nórdico da heroína de Siegfried Brünhild, também conhecida como Sigrdrifa (estimuladora-da-vitória). É
um dos primeiros filmes de Tarantino sem uma presença feminina de impacto e sem
o habitual close nos pés de suas
protagonistas, o silêncio de Broomhilda é mais uma referência à personagem
nórdica, que aguarda silenciosa pelo resgate de seu herói. A cena em que ela é
jogada no quarto e permanece deitada e quieta é semelhante à mitologia, na
história Brünhild é jogada no círculo de fogo e fica deitada, até que Siegfried
surge após matar o dragão e a resgata.
Confira o Trailer:
Samuel L. Jackson |
Mas o grande destaque é Samuel L.
Jackson, logo em sua primeira cena ele a toma para si, é quase impossível não
notar sua presença, o modo como fala e se expressa em cena torna o momento de
sua entrada mais esperado que o próprio desenrolar do filme. Ele interpreta o
escravo Stephen, preconceituoso contra a própria raça ele é de longe o maior vilão
do longa e toma de assalto todas as cenas em que participa.
O toque Tarantinesco está presente em
todas as cenas, um misto de desgraça e ironia, gerando uma espécie de humor
negro, a mais evidente surge nas últimas cenas quando um homem leva inúmeros
tiros, mas permanece vivo e sem poder sair da linha de frente, os mais
conservadores acharão a cena desnecessária, para os amantes da arte
Tarantinesca ela é memorável. Django
Livre foi indicado a cinco óscares, incluindo melhor filme, roteiro
original e ator coadjuvante. A Academia não costuma premiar as obras de
Tarantino da forma merecida, Django figura como favorito apenas ao prêmio de
melhor roteiro pela crítica. É aguardar até 24 de fevereiro e conferir os
vencedores!
Que o cinema esteja com vocês!
Concordo com seu belo texto.
ResponderExcluirAmei Django e as ótimas atuações. Samuel L. Jackson é piada devido a atuação tão perfeita.
Tarantino é acima dos poucos críticos que ainda enxergam seus filmes apenas como obras de violência.
Abraços
Um bom filme...concordo!
ResponderExcluirde fatos as atuações foram excelentes e concordo com você... nosso bom e velho Samuel L Jackson rouba todas as cenas que aparece!
ResponderExcluirTambém acho que Bastardos merecia o Oscar, mas curti bastante Guerra ao Terror. É questão de gosto, mas acho que Preciosa, Um Sonho Possível, um Homem Sério e Avatar não mereceram suas indicações. Quando vi Avatar no IMAX 3D saí maravilhado, mas quando liguei no DVD aqui foi uma experiência bem chatinha.
de uma olhada no meu blog
ResponderExcluirhttp://bolinhasemnome.blogspot.com.br/
tirinhas sobre o deus bacon o demonio porco e um pouco sobre bolinhas
Django é um corte epistemológico, um marco na história do cinema. Podem fazer igual, mas, nem mesmo Tarantino, conseguirá fazer um filme melhor. Perfeito em todos os quesitos.
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