Devo confessar que não sou fã de
musicais, mas devido ao apelo da crítica fui tomado pela curiosidade de
conferir Os Miseráveis (Les Misérables).
Baseado no musical de mesmo nome que por sua vez teve inspiração na obra do
francês Victor Hugo, o filme retrata a França no período da Revolução Francesa
que se iniciou com a Tomada da Bastilha em 1789. A pobreza é o pano de fundo
para uma história embebida de tenacidade, amor e revoluções. É um retrato
emocionante de uma época negra da história que deu origem a uma das máximas
mais conhecidas da história: Liberdade,
igualdade e fraternidade.
Jean Valjean |
Inicialmente o filme tem um ritmo
cansativo, moroso e por vezes exige mais que nossa paciência, os dois últimos
atos são mais agitados e prendem mais a atenção. A apresentação dos personagens
é feita de forma primorosa. Conhecemos logo no início o tom do musical com a
apresentação de Jean Valjean (Hugh Jackman), condenado por roubar um pão para
alimentar a irmã e o vilão Javert (Russel Crowe), inspetor responsável pelos
detentos. Logo em seguida surge Fantine (Anne Hathaway), retrato da injustiça
social daquela época juntamente com Valjean.
Marius, Cosette e Éponie |
Ainda na primeira parte é exposto o
sofrimento de Fantine, que foi abandonada pelo pai de sua filha após esta
nascer e acaba de perder o emprego. Anne Hathaway, indicada ao Oscar de melhor
atriz coadjuvante, é a favorita ao prêmio por sua aclamada atuação. Achei
razoável, nada de extraordinário, quase não percebi I dreamed a dream, que não teve a devida proporção ou propriedade pelo
tamanho do drama que vivenciava. O momento mais emocionante em minha opinião é
o trio formado por Éponine (Samantha Barks), Marius (Eddie Redmayne) e Cosette
(Amanda Seyfried) cantando A heart fullof love, as três vozes se sobrepondo em frases ambíguas tendo o sentido
definido por um dos três e tornando as outras duas uma antítese da outra é
fantástico. Sem contar a linda voz e presença de Samantha Barks, sua personagem
possuía um drama menor, mas sua atuação o fez parecer maior e mais emocionante.
Javert |
Russel Crowe como Inspetor Javert não
foi tão bem, a decisão de Tom Hooper em gravar as músicas fora do estúdio, ou
seja, no meio das cenas in loco e in natura não foi muito acertada para
esse caso. Muito me admira a ousadia de Hooper em realizar um musical dessas
proporções e nessas condições. Em contrapartida Hugh Jackman fez o papel de sua
vida e não fosse a concorrência com Daniel Day-Lewis seria o grande favorito ao
prêmio de melhor ator no Oscar 2013, diga-se de passagem, cantou muito bem.
Casal Thénardier |
O casal Thénardier interpretado por
Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohen, viveram dois aproveitadores
trambiqueiros que lembra muito os personagens de Tim Burton, marido de Bonham
Carter que é colaboradora em muitas de suas obras. O humor ácido e negro do
casal quebra o ar sombrio e trágico descondensando a obra. Essa atitude, à qual
apelidamos de malandragem por essas bandas, poderia ser típica dos franceses da
época. O contexto histórico da obra publicada em 1862 aponta uma França desgastada
pela Revolução e pelo longo reinado de Napoleão Bonaparte. Vivendo em regime
absolutista a população não tinha nada a não ser os impostos a serem pagos que
eram aumentados sempre que o país entrava em guerra. Por outro lado a burguesia dilatava
ainda mais o abismo entre riqueza e pobreza.A exploração e desrespeito ao bem
estar amparados por uma política que visava apenas poder, fez vislumbrar nos
olhos dos mais pobres o caminho da riqueza. Nesse contexto todo e qualquer tipo
de golpista surgia de corpo e alma, sem se preocupar com ética e moral. Era o
retrato da sociedade francesa e do casal Thénardier.
Fantine |
Os
Miseráveis foi
indicado a oito óscares, incluindo melhor filme, melhor ator e melhor atriz
coadjuvante. Foi o maior vencedor do Bafta 2013, levando quatro prêmios, entre
eles o de melhor atriz coadjuvante, porém perdeu a briga de melhor filme
britânico para 007 – Operação Skyfall.
Que o cinema esteja com vocês!
Confira o trailer:
Les Misérables |
Emerson Henrique ,gosto muito de suas criticas!
ResponderExcluirObrigado Leda, é uma força a mais pra continuar escrevendo.
ExcluirAbraço!