A
Grande Beleza é um
filme poético, portanto a analogia com Amor,
vencedor do Oscar 2013, faz-se necessário. Lembro-me que ao escrever a crítica do
filme franco-austríaco fui tomado por um espírito de beleza e elucidação, como
se a verdade do mundo estivesse presente em um fim de tarde simples ao pôr do
Sol. Com a obra italiana, favorita à premiação em 2014, assinada por Paolo
Sorrentino não foi diferente. Tudo termina com um ponto final, mas antes havia
as palavras, tudo termina no silêncio, mas antes havia a fala, tudo termina com
a morte, mas antes havia a vida. Essa é a síntese dessa obra tão comparada com
os trabalhos do maior cineasta italiano, Federico Fellini, que tem em A Doce Vida (1960) a maior fonte
inspiradora.
Jep Gambardella escritor de meia idade que publicou apenas um livro - O Aparato Humano - encontra-se em uma fase de reflexão na qual filosofa sobre sua vida, amores, palavras e principalmente sobre a banalidade da burguesia italiana. Os diálogos filosóficos não se resumem à presença de Toni Servillo (Gambardella), o roteiro de Sorrentino e Umberto Contarello está repleto de passagens introspectivas e incisivas, como o monólogo escrito por Romano (Carlo Verdone) interpretado no teatro por ele mesmo: “Passei todos os verões de minha vida fazendo planos para setembro, agora não mais, apenas recordo das boas intenções que se foram. A saudade é a única distração para quem não tem fé no futuro”.
Jep Gambardella e a alta sociedade |
E Jep Gambardella nos brinda com um
dos melhores monólogos do cinema dos últimos tempos: “Após uma vida de embaraços e espasmos de beleza incompleta e imperfeita
sedimentada pelos dias claros e noites frescas, sob muito falatório do que
deveria ser, surge o manto suave e indelével da morte que nos encerra na
imortalidade de nossos anos passados ao lado de pessoas que nem sempre nos
foram agradáveis”.
“Tanto
tempo foi perdido com blá-blá-blá para que chegássemos tão longe e quanto mais
avançamos menos podemos fazer. Só nos resta a nostalgia de uma vida que não irá
a lugar algum. A mim resta o silêncio sepultado em minha centelha de
incompreensão, a mim resta descobrir a grande beleza e cunhar o romance de
minha vida vã que só terá sentido claro para minha cegueira quando for morte.
Tudo está entre estes dois mundos, mas estamos apenas deste lado, todo o resto
é solo un trucco, solo un trucco”.
E finaliza: “E termina sempre assim, com a morte, mas antes havia a vida escondida
sob o blá-blá-blá, sob a insignificância de nossa própria existência vazia e
hedonista. Tudo sepultado pelo embaraço de estar no mundo... solo un trucco,
solo un trucco”.
Confira o Trailer:
A maior mensagem de A Grande Beleza envolve a futilidade das
coisas e pessoas, não precisamos de gente que nos admire ou admire nosso
trabalho, isto alimenta apenas o ego, precisamos de pessoas que nos
compreendam. Classificar o incompreensível como extraordinário não é o que
buscamos, mas sim o sentido de tudo que é oculto a nosso entendimento...
buscamos a grande beleza ainda encoberta pelo tempo de nossa vida que se
arrasta como relógio e grita a cada hora na alusão de um ritual macabro contando os segundos para nosso fim.
E que a grande beleza do cinema esteja
com vocês!
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