20 de março de 2013

Ted (2012)


Como apresentador do Oscar 2013 Seth MacFarlane surpreendeu com humor ácido característico de seus roteiros. Foi criticado por alguns e aclamado por outros. A maior e mais genial tirada de MacFarlane na apresentação da cerimônia foi ao falar de Argo: “a história é tão confidencial que até hoje a Academia não sabe quem dirigiu o filme”, numa clara referência a ausência de Ben Affleck na categoria de melhor direção. Da mesma forma Ted recebeu críticas e elogios, com um roteiro inovador e humor considerado politicamente incorreto. A estreia do criador da animação Family Guy nos cinemas traz fôlego novo ao gênero que estava há tempos sendo repetitivo e juntamente com O Lado bom da Vida formam as duas comédias mais inovadoras dos últimos anos.

Protógenes X Ted
Ted, em seu lançamento, foi muito polêmico, principalmente no Brasil quando o deputado Protógenes Queiroz levou seu filho de onze anos para assistir o longa e ficou indignado com o conteúdo que aborda o consumo de drogas e não possui requinte no vocabulário que abusa de palavras de baixo calão. O filme descreve a relação de um menino solitário recriminado por todos, inclusive pelos que sofriam bullying, e um urso desbocado que se tornou seu amigo, juntos consomem drogas, participam de festas regadas a álcool. Após o embaraçoso episódio com seu filho o deputado sugeriu a proibição das exibições do filme no Brasil, o que ficou ainda mais embaraçoso, pois a indicação do longa de MacFarlane estava com a classificação acima de dezesseis anos. Após todo o rebuliço Protógenes Queiroz resolveu considerar apenas a modificação da classificação indicativa para maiores de dezoito anos. Ambas foram negadas.

Seth MacFarlane dubla Ted
Outro motivo de polêmica trata da, aparentemente, apologia às drogas e o modo de vida hedonista. No entanto, o filme passa longe disso e ao invés de apológico é crítico. A Teoria do Apego do psiquiatra e psicanalista britânico John Bowlby descreve que um recém-nascido precisa desenvolver um relacionamento com pelo menos um cuidador primário para que seu desenvolvimento social e emocional ocorra normalmente. A ausência desse símbolo cria um ser sem parâmetros morais e sociais e em muitos casos surgem dessa deficiência delinquentes e usuários de drogas. John Bennett (há uma curiosa semelhança com o nome do autor da Teoria do Apego e o protagonista de Ted), vivido por Mark Wahlberg, foi isolado por seus colegas e viu em Ted (dublado pelo próprio MacFarlane) o amigo perfeito a quem logo se apegou. Temos aqui uma crítica em relação a educação liberal dada pelos pais e a falta de acompanhamento da vida dos filhos ao serem liberais cria seres sem parâmetros que incorporarão os modelos adotados por aqueles que estiverem mais próximos deles, como os amigos, por exemplo.

Ted, John e Lori
O hedonismo presente na obra não faz apologia ao modo de vida que visa apenas prazer sem regras e dessa forma encontra a felicidade. É o olhar irônico do roteirista MacFarlane (que além do roteiro e dublagem também foi o diretor) debochando desses costumes bizarros de rotular as coisas com o que elas se assemelham sem entender sua real função social. Nesse ponto surge um elemento primordial para o entendimento dessas questões: a namorada de John, Lori Collins (Mila Kunis), que surge como representação da vida adulta e nos remete à perda da inocência. Trata-se de uma trama primária: John é um menino solitário que se apega a um urso sem pudores que lhe ensina os valores morais e éticos. Ambos se divertem ao extremo em uma vida hedonista, o que contraria a maturidade (Lori) transformando o relacionamento entre John e Lori em uma intensa briga de egos.

Confira o trailer:

Enfim, podemos ser felizes e populares entre as pessoas, mas não atingiremos a plenitude da vida se não desabrocharmos nossa maturidade. O final feliz do filme vai de encontro com a verdade sugerida pelo contexto da história: devemos encarar nossos problemas, abandonar velhos hábitos para nosso crescimento e desenvolver valores sólidos que servirão de parâmetro para aqueles que buscarão em nós seu porto seguro.

E que o cinema esteja conosco!


5 comentários:

  1. Eu gostei do filme.....gostei mesmo.

    A falha é que alguns vão aos cinemas e não buscam informações sobre o que irão assistir..........e ai................

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    1. Olá Renato! Eu gostei muito, é uma das belas surpresas em comédia dos últimos anos, no início torci o nariz, mas a criatividade de Seth MacFarlane falou mais alto! O ponto negativo são essas pessoas, que como você disse, não procuram saber sobre o filme e depois querem criticar deixando uma imagem ruim.

      Abraço!

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  2. Puxa! Não tinha nenhum interesse em ver esse filme até ler o seu texto! Ainda não tinha lido nenhuma crítica a respeito e pensava que fosse só mais um daqueles filmes bobos. Agora fiquei com vontade de ver!

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    1. É um filme muito bom! Foi-me uma grata surpresa! Espero que goste!

      Abraço!

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  3. Essa história do deputado é hilariante. Que idiota!

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