19 de maio de 2013

Dragão Vermelho (2002)


No prólogo da edição brasileira de Dragão Vermelho Thomas Harris descreve como conheceu o Dr. Hannibal Lecter. Repórter policial na década de sessenta, ele diz que ninguém inventa uma história, ela está ali, basta descobrirmos e no outono de 1979 se isola na cabana de um amigo no delta do Mississipi e começa a escrever a obra que daria origem ao serial killer mais conhecido do cinema. Ele tentava vislumbrar a solução daqueles crimes juntamente com Will Graham, algumas vezes no escuro de sua cabana acompanhado pelos cães selvagens e dóceis que vagavam pela plantação de milho defronte à cabana. Não tinha certeza de quem havia cometido os crimes, mas sabia que precisaria de ajuda. Ele conhecia as cicatrizes de Will e por noites a fio sofreu por ele, por também possuir cicatrizes do passado. Quando a porta de aço do Hospital Estadual de Chesapeake para Criminosos Insanos se fechou às suas costas mal sabia o que o aguardava no fim do corredor, mas sabia que seu destino seria mudado para sempre. Ele conhecera Hannibal Lecter.

Thomas Harris
Lançado em 1981 nos Estados Unidos Dragão Vermelho (Red Dragon) teve sua primeira adaptação para o cinema em 1986 com o título de Manhunter escrito e dirigido por Michael Mann. Em 2002 seu remake ficou a cargo de Brett Ratner, trazendo na pele do Dr. Lecter o consagrado Anthony Hopkins, vencedor do Oscar de melhor ator pelo mesmo papel em 1992 pelo filme O Silêncio dos Inocentes que na cronologia original segue-se após os fatos de Dragão Vermelho. Para o papel de Will Graham foi escalado Edward Norton. O filme ainda conta com Ralph Fiennes no papel do antagonista Francis Dolarhyde e Harvey Keitel como o chefe da sessão de Ciência e Comportamento de Quantico Jack Crawford. Philip Seymour Hoffman encarna o repórter Freddy Lounds. A bela e tensa trilha sonora de Danny Elfman nos remete aos grandes suspenses de Alfred Hitchcock. O roteiro é envolvente e não nos perde em nenhum momento.

Este ano estreou o seriado Hannibal que aborda os acontecimentos anteriores à Dragão Vermelho, dentre os destaques podemos citar a proximidade de Hannibal e Will Graham e também as análises psiquiátricas realizadas por Hannibal. É interessante notar como o Dr. Lecter descreve o chefe de Graham, Jack Crawford, ele o têm como manipulador que busca de todas as formas extrair o que deseja de seus agentes, o que põe Graham cara-a-cara com o homem que tentaria mata-lo anos depois.

Graham e Hannibal
Os diálogos entre Hannibal e Graham são memoráveis, o modo como o Dr. Lecter joga as coisas no ar obriga seus interlocutores a entrarem em seu jogo, que em muitas ocasiões só oferece vitória a ele mesmo. Hannibal sempre se refere a Will como seu semelhante, motivo pelo qual ele o teria capturado. “A imaginação é o que nos difere dos demais Will”. Essa capacidade de romantizar um ser atroz e inescrupuloso e descrever suas idiossincrasias com perfeição é o ponto alto de Thomas Harris, seu romance seria um livro comum não fosse a presença espirituosa de Hannibal Lecter, esse fato mudou o destino do escritor, como ele mesmo cita.

Francis Dolarhyde
O modo como elevou o intelecto de Hannibal e refinou seus gostos nos dá a impressão de que seus atos frios e ignóbeis são neutralizados e faz com que nos afeiçoemos a ele. O desenrolar da história nos põe como testemunhas do dilema vivido por Will e também nos mantem em xeque, afinal, somos todos parecidos? Possuímos um instinto predatório natural a todos os seres vivos que é aguçado por circunstâncias ou sentimentos específicos, ele se manifesta de forma prazerosa para o Dr. Lecter, ou representa o medo no caso do ex-agente do FBI Will Graham.

A maior qualidade de Hannibal talvez seja o auto controle, seguindo a máxima de Sócrates “Conhece-te a ti mesmo” ele nos dá uma aula de comportamento. Mas quando seu ímpeto fala mais alto e age de forma instintiva o que o salva é sua inteligência, o que não demérita o controle de si próprio, até seus atos repentinos são premeditados, como se ele soubesse exatamente o que dizer para provocar uma situação favorável a seus banhos de sangue.

A prisão não parece tê-lo afetado, ele não vê problemas em expor sua verdadeira natureza à sociedade. Provavelmente conversava com suas vítimas antes de mata-las, ele próprio já havia se desmascarado, motivo este que o deixa à vontade diante da ruptura de seu lado negro. Mas de certa forma essa exposição forçada quebra seu ritual e profana o seu sagrado, o que o deixa irado e sustenta ainda mais o seu desejo de vingança, ainda que subconscientemente, fato que se faz visível quando ele envia ao Fada do Dente o endereço de Will Graham e pede a ele que mate todos. Com Starling seu sentimento é de confiança recíproca, no fundo ele sente algo bom por ela e se renova por poder exibir seu intelecto.

Encerro o texto como termina o filme com a leitura da carta que Lecter enviou à Graham: “Nossas cicatrizes tem o poder de nos lembrar que o passado foi real [...] Vivemos em uma sociedade primitiva, nem selvagem nem sábia. Qualquer sociedade racional ou me mataria ou faria algo de útil comigo.”

Confira o trailer:
E que o cinema esteja com vocês!


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