16 de março de 2013

A História do Brasil no Oscar


O Brasil nunca levou nenhuma estatueta do prêmio mais importante e tradicional do cinema, o Oscar. Foram várias indicações e muita expectativa, em alguns momentos nossos filmes foram superestimados, em outros podemos dizer que fomos subestimados. Se por um lado nunca levamos um Oscar o prêmio mais charmoso do cinema distribuído pelo Festival de Cannes, na França, já foi dado a um filme brasileiro e é com ele que começa nossa história no prêmio de melhor filme estrangeiro.

Cena de O Pagador de Promessas
Em 1963, quando o vencedor da Palma de Ouro em Cannes, O Pagador de Promessas, foi indicado para o prêmio de melhor filme estrangeiro, víamos pela primeira vez uma produção nacional figurar entre os melhores do ano. Realizado em 1962 por Anselmo Duarte que adaptou a obra de Dias Gomes para o cinema, O Pagador de Promessas é um dos grandes sucessos do cinema brasileiro e o primeiro filme a ser indicado ao prêmio de melhor filme estrangeiro. O roteiro narra como Zé do Burro, vivido por Leonardo Vilar, paga uma promessa carregando uma cruz, mas é proibido de entrar com ela na igreja devido à natureza de sua penitência: a cura de seu burro. Infelizmente a estatueta ficou com o francês Sempre aos Domingos de Serge Bourguignon.

Vinte anos antes o Brasil via seu nome surgir no altar do cinema mundial com o filme Brazil de 1944 dirigido por Joseph Santley, teve três indicações ao Oscar, uma delas de melhor canção original para o brasileiro Ary Barroso pela música Rio de Janeiro. O brasileiro concorreu com outras doze canções e o prêmio foi para James Van Heusen e Johnny Burke pela canção Swinging on a Star do filme Going my Way.

Apenas trinta e três anos depois da primeira indicação a melhor filme tivemos um longa brasileiro figurando entre os melhores do mundo. Em 1996 O Quatrilho representou nosso país no Oscar. Dirigido por Fábio Barreto e baseado no livro homônimo de José Clemente Pozenato, passa-se no ano de 1910 e conta a história de dois casais cujas esposas se apaixonam pelo marido da outra. Com um elenco de atores renomados como Patrícia Pillar, Glória Pires e Gianfrancesco Guarnieri, perdeu a estatueta para o holandês A Excêntrica Família de Antônia da diretora Marleen Gorris.

O que é Isto Companheiro?
Dois anos depois, em 1998, foi a vez de O que é Isto Companheiro? dirigido por mais um membro da família Barreto o irmão de Fábio, Bruno Barreto e baseado parcialmente no livro homônimo de Fernando Gabeira. Com um elenco estelar que contou com Pedro Cardoso, Fernanda Torres, Luiz Fernando Guimarães, Matheus Nachtergaele e as participações especiais de Fernanda Montenegro e Alan Arkin no papel do embaixador Charles Burke Elbrick. Ele foi sequestrado por um grupo militante de esquerda, entre os membros o próprio Fernando Gabeira e Franklin Martins que lutavam contra a ditadura e pretendiam trocar o embaixador por companheiros presos. O prêmio foi novamente para a Holanda com o filme Caráter de Mike Von Diem.

No ano seguinte passamos muito perto da estatueta com duas indicações, Central do Brasil, de Walter Salles, como melhor filme e Fernando Montenegro como melhor atriz. O ótimo A Vida é Bela do italiano Roberto Benigni ficou com o prêmio de melhor filme estrangeiro e o superestimado Shakespeare Apaixonado levou o prêmio de melhor atriz que ficou com Gwyneth Paltrow, uma das maiores injustiças da história do Oscar. A atuação de Fernanda Montenegro que interpretou uma mulher que escrevia cartas para analfabetos na Estação Central do Brasil foi estupenda, ela entregou-se de corpo e alma ao papel e emocionou o país. Conquistou o Urso de Ouro em Berlim e foi indicada também ao Globo de Ouro.

Caetano Veloso e Lila Downs
Em 2001 tivemos nossa primeira indicação a curta metragem com Uma História de Futebol de Paulo Machline, inspirado em um episódio da infância do Rei Pelé. Dessa vez perdemos para o curta mexicano Quiero Ser de Florian Gallenberger. Em 2003 tivemos Caetano Veloso indicado pela parceria com a mexicana Lila Downs na canção Burn it Blue do filme Frida. Mais uma vez o prêmio não veio para o Brasil, o vencedor foi Eminem pela canção Loose Yourself do filme 8 Mile – Rua das Ilusões.

2004 foi o ano do Brasil no Oscar com Cidade de Deus que concorreu em quatro categorias, melhor diretor com Fernando Meirelles, melhor edição, roteiro adaptado e fotografia. Era o ápice do cinema nacional que dava sinais de melhora no âmbito internacional, no entanto não levamos nenhum dos quatro prêmios. O longa de 2002 não foi indicado à premiação de 2003, a distribuidora Miramax, que na época pertencia ao conhecido lobista de Hollywood Harvey Weinstein, provocou o relançamento do longa nos Estados Unidos acompanhado de uma grande estratégia de marketing e em 2004 Cidade de Deus figurou entre os indicados ao Oscar. O filme que conta a rotina da favela Cidade de Deus e teve um páreo duro: O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei, de Peter Jackson, que abocanhou todos os onze prêmios aos quais foi indicado, incluindo melhor direção, edição e roteiro adaptado. A estatueta de melhor fotografia ficou com Mestre dos Mares – O Lado mais Distante do Mundo. Apesar de não ser uma produção brasileira A Aventura Perdida de Scrat do brasileiro Carlos Saldanha concorreu ao Oscar de melhor curta de animação também nessa edição, perdendo para o australiano Harvie Krumpet.

Confira A Aventura Perdida de Scrat:

Em 2011 tivemos a primeira indicação por documentário para Lixo Extraordinário co-produzido por brasileiros e britânicos, mais uma vez o prêmio não veio, o vencedor foi Inside Job. Nessa edição poderíamos ter Tropa de Elite 2, longa que abordou a corrupção em diversos meios, tanto no social quanto no político, ironicamente por uma questão política o fraco longa Lula, o Filho do Brasil foi o escolhido para concorrer a uma vaga ao Oscar, por motivos óbvios não foi escolhido. No ano seguinte o filme de José Padilha ainda tentaria uma vaga, mas foi excluído tendo como base a data de seu lançamento. Mas ainda tivemos Carlinhos Brown demonstrando que a música é um de nossos fortes, ele concorreu em 2012 pela canção Real in Rio composta em parceria com Sérgio Mendes e Siedah Garret para a animação de Carlos Saldanha Rio. Mesmo tendo apenas um concorrente, a canção Man or Muppet do filme The Muppets, o prêmio nos escapou mais uma vez.

Carlinhos Brown no tapete vermelho
Para 2013 o genial O Palhaço de Selton Mello participou das eliminatórias, mas não figurou entre os finalistas, seria um páreo quase impossível com o franco-austríaco Amour. Para 2014 temos O Som ao Redor e A Busca estrelando Wagner Moura, outras produções ainda por vir e a expectativa de figurarmos entre os vencedores do prêmio mais importante do cinema.

E que ele esteja com vocês!

5 comentários:

  1. Muito boa a análise. Um dos problemas que eu vi recentemente se dá em determinadas escolhas para filmes. Como você citou, estranho tentar surfar na popularidade internacional do Lula e indicar um filme sobre ele - que, confesso, evitei de assistir. Outra escolha duvidosa, para mim, foi a de Dois Filhos de Francisco. Filme bom, emocionante, mas que exigia um conhecimento prévio da dupla, principalmente por conta do final.

    O Som ao Redor recebeu muitas críticas positivas, aqui e fora do país. Por mais que o ano ainda tenha muito a vir, é um forte favorito, ainda mais que a categoria de filme estrangeiro permite mais experimentações.

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    1. O Som ao Redor surge como favorito sim, muito se tem falado dele fora do país e essa popularidade é muito importante para a escolha dos indicados ao Oscar. Concordo com seu ponto de vista, as experimentações são bem vindas nesta categoria do Oscar.

      Abraço!

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  2. Gosto do Oscar e acho perfeito sua visão. Porém, acredito que os jogos por trás do prêmios são mais importantes que a qualidade do filme.

    Jamais perdoô falhas graves, como Taxi Driver não ter sido vencedor do Oscar de Melhor Filme.
    abs

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  3. Lula ter sido o filme nacional como indicado.....mostra o que eu dizemos, ou seja, o problema começa lá e termina aqui......jogos políticos por debaixo do pano cinematográfico.

    abs

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  4. Dois Filhos de Francisco eu evitei ver, mais uma escolha duvidosa.

    Renato, os jogos políticos estão cada vez mais presentes em tudo quanto é premiação, no entanto é preciso um pouco mais, como a Miramax fez com Cidade de Deus, creio que esse foi o erro do filme Lula, apenas apostaram nele, mas o marketing brasileiro estava todo voltado para Tropa de Elite. É uma pena.

    Taxi Driver... não gosto nem de lembrar, ainda estou mordido com a última edição do Oscar, Jennifer Lawrence podia ter esperado Riva não!

    Abraço!

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