Leonard Zelig viveu seu apogeu nas
décadas de 20 e 30. Em 1983 foi lançado o documentário Zelig. Conhecido como o
camaleão humano, ele possuía uma estranha doença (ou era a doença que o
possuía) que o tornava capaz de se transformar em qualquer pessoa que estivesse
próxima a ele. Zelig tornou-se herói nacional nesse período, mas se você faltou
às aulas de história ou se os documentários que assiste são sobre pinguins-imperadores que convivem com abelhas-rainha, conheça agora Leonard
Zelig!
O pseudodocumentário Zelig, dirigido por Woody Allen, é um exemplo de massificação e uma ácida crítica ao modo como são construídos os ídolos e heróis e principalmente pelas idiossincrasias sociais. Ele é o reflexo de nossas máscaras.
Rango |
Tudo começou quando Zelig,
interpretado pelo próprio Allen, foi questionado na escola, ainda em sua
infância, se havia lido Moby Dick, obra, à qual, todos de sua sala haviam lido,
ele não. E mentiu ter lido para não se sentir deslocado. Com o passar do tempo ele
mimetizou as pessoas e suas atitudes. Sentia necessidade de aprovação
perante quem o circundava. Com isso negava a si mesmo
para viver a verdade dos outros, o que o tornou adorado por todos. A animação vencedora do Oscar de 2012, possui um roteiro muito semelhante,
Rango, de Gore Verbinski, é um camaleão que sonha em ser ator e interpreta os papéis que lhe são
convenientes ao momento.
Eudora Fletcher e Zelig |
Zelig desperta o interesse da Dr.
Eudora Fletcher, interpretada por Mia Farrow, que defende sua internação
enquanto a opinião pública o trata como atração circense. Produzem bonecos,
camisetas e inúmeras canções em sua homenagem. É impossível não assimilar a
realidade do filme com nossos realities shows, no qual personalidades sem o
mínimo de brilho são alçadas ao sucesso pela mídia e, assim como ocorre com Leonard, da mesma forma banal em que são elevados ao pedestal da fama, são
derrubados. Zelig ganha status de herói de uma forma bizarra, seu nome e imagem
são estampados por toda parte. No Brasil, recentemente, tivemos um exemplo, o Mendigo Gato que há pouco vivia nas ruas, tornou-se celebridade no meio
midiático.
Em uma das sessões de hipnose com
Eudora Fletcher, Zelig diz: “tenho 12 anos. Entro em uma sinagoga. Pergunto ao
rabino o sentido da vida. Ele me diz o sentido da vida. Mas ele me diz em
hebraico. Eu não falo hebraico. Ele quer cobrar 600 dólares por aulas de
hebraico.” É uma forma genial de dizer o sentido da vida. Ou de não dizê-lo.
Zelig e Hitler |
A produção de Zelig recebeu inúmeros
elogios. Allen e o diretor de fotografia Gordon Willis, inseriram Leonard em
imagens reais de tablóides da época utilizando a técnica do Chroma key, com
isso Allen foi retratado ao lado de celebridades da época, como o presidente
dos Estados Unidos, Al Capone, Charlie Chaplin, Adolf Hitler e até o Papa Pio
XI. O filme é rodado todo em preto e branco e para que as imagens geradas
parecessem reais localizaram câmeras e lentes utilizadas originalmente durante
o período retratado. Essa mistura de imagens foi alcançada quase uma década
antes da tecnologia digital, utilizada em filmes como Forrest Gump, por exemplo. A
fotografia e o figurino foram indicados ao Oscar de 1983.
Para aumentar a veracidade do
documentário, pessoas reais comentam o fenômeno Zelig, como o escritor e prêmio Nobel Saul Bellow, o psicólogo Bruno Bettelheim e a ensaísta Susan
Sontag. O filme passou muitos anos esquecido por não seguir a forma tradicional
da ficção clássica, jamais foi lançado em VHS, mas foi incluído pela Fox no Box
lançado com toda a obra de Woody Allen no Brasil.
Zelig conseguiu transformar-se em
praticamente tudo, obteve fama e tornou-se herói, mas Moby Dick ele não conseguiu ler.
Que o cinema esteja com vocês!
Baixando o filme já!
ResponderExcluirAssista e nos conte o que achou!
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