18 de fevereiro de 2013

Lincoln (2012)


Sem saber guardei o melhor do Oscar 2013 para o fim, assisti neste fim de semana os últimos três filmes que concorrem ao prêmio principal do Oscar, para minha grata surpresa são os três melhores, Django Livre, que assisti anteriormente, também é muito bom, mas receio que não seja “oscarizável”. A trama Argo é tensa e bem montada, As Aventuras de Pi é fenomenal com um desfecho inimaginável e surpreendente, Lincoln é o retrato de uma figura icônica realizada por um diretor que presa os detalhes e por um ator que se confunde com o próprio personagem que interpreta. Uma espécie de Médico e o Monstro do cinema em uma história fascinante.

A coragem que homens como Che Guevara, Luther King, Gandhi e Lincoln imputaram em busca da paz e igualdade, é igualmente representada no sentido oposto por vilões históricos. Quando esses dois tipos se encontram quem leva a pior é sempre a paz, perdendo um aliado para a eternidade heroica de homens que entregam a própria existência em prol da vida de milhares como uma escritura cristã dos tempos modernos.

A sensação que tive no decorrer do filme foi a falta que aquela figura carismática me faria quando os créditos finais surgissem e as cortinas fossem levantadas. Como se Lincoln fosse um amigo que partiria em uma longa jornada, como um dia partiu a turma do Senhor dos Anéis para ressurgir novamente no início daquela jornada com O Hobbit. O filme mal acabou e já me sinto saudoso de outro longa que nos introduza no início da caminhada desse amigo distante. Sinto um vazio por ter existido apenas um Lincoln, sinto um vazio por sua história ter sido exposta em apenas três horas.

Sou ufanista declarado e me ressinto com a coerção política exercida pelo país de Lincoln contra o resto do mundo, mas devo admitir que a representação dos feitos de um líder imponente como ele jamais seriam ditos com a mesma seriedade em nosso país. Quando retratarão um símbolo brasileiro de forma que não haja cenas de nudismo (os brasileiros gostam de se exibir por pouco) ou algum gesto de má fé (gostamos de nos vangloriar por nada)? O povo norte americano eleva seus ídolos e heróis a patamares mais altos do que os picos do Olimpo, morada dos deuses. Esse orgulho domina qualquer amante das ideias revolucionárias baseados na justiça. Quando cantaremos o hino de nossas vitórias, o hino de nossa persistência em continuar de pé ainda que os obstáculos sejam intransponíveis? Quando seremos brasileiros no coração a ponto de elevar nossos guerreiros anônimos? Quando deixaremos de nos vender para denunciar a corrupção moral e física à qual somos passivos?

A incrível semelhança de Lincoln com Day-Lewis
Inúmeras críticas apontam Lincoln como um filme político. Discordo no ponto em que a imensa e benévola sabedoria de um presidente, que se vale de seu poder para conquistar a liberdade de seu povo, seja meramente “política”. Os meios utilizados foram sim, políticos, mas para nós brasileiros que estamos acostumados com a lama do congresso tal afirmação soa deslocada e injusta.

Sally Field
Daniel Day-Lewis foi assustador no papel de Lincoln, ajudado pelo roteiro que enfatizou o carisma e a identidade do ex-presidente dos Estados Unidos. Ganhador de dois Oscars de melhor ator principal por Sangue Negro e Meu pé Esquerdo é novamente o mais cotado para o prêmio, já ganhou o BAFTA e o SAG Awards por seu papel em Lincoln. Apesar de muitos críticos afirmarem que o roteirista Tony Kushner não possui ritmo na escrita acredito que esse não seja o ponto, o tipo de narrativa abordada em Lincoln e em Munique, ambos em parceria com Steven Spielberg, não são explicitamente de ação, o primeiro é mais introspectivo, apesar de elencar todo o processo político anterior à 13ª Emenda, visa mais as características morais e psíquicas de Lincoln, sua esposa, Mary Todd Lincoln, interpretada muito bem por Sally Field, também possui o perfil psicológico abordado pelo roteirista que o baseou na obra biográfica de Lincoln Team of Rivals: The Political Genius of Abraham Lincoln de Doris Kearns Goodwin. Field foi indicada ao prêmio de melhor atriz coadjuvante, categoria na qual Anne Hathaway é favorita. Sally já ganhou duas estatuetas de atriz principal.

David Strathairn
Em Lincoln temos a oportunidade de flertar com figuras lendárias como o Secretário de Estado William H. Seward, vivido por David Strathairn, uma espécie de Alfred para Abraham Lincoln. Joseph Gordon-Levitt interpreta o filho rebelde que carrega o fardo de ser o filho de um dos presidentes mais importantes de todos os tempos. No fim do filme temos uma visão emblemática, como que colocado ali de propósito para dizer olá, vemos o General Ulysses S. Grant e Lincoln conversando e se aconselhando, o General seria o presidente entre 1868 e 1876. Outra figura importante é o congressista abolicionista Thaddeus Stevens, interpretado por Tommy Lee Jones, também indicado ao Oscar, concorrendo como melhor ator coadjuvante, esse prêmio está em aberto, nenhum dos indicados possui favoritismo absoluto. Jones venceu o Oscar por O Fugitivo em 1993, como melhor ator principal.

Day-Lewis e Gordon-Levitt
Ao todo Lincoln recebeu 12 indicações ao Oscar 2013, filme mais indicado, é favorito em três prêmios principais, melhor filme, melhor ator principal e melhor diretor para Steven Spielberg. Outra categoria que merece destaque é a de melhor fotografia para Janusz Kamiński que participou de todos os filmes de Spielberg desde A Lista de Schindler pelo qual venceu seu primeiro Oscar, vindo a receber outro pela fotografia de O Resgate do Soldado Ryan.

Confiram o trailer:

O momento histórico de Lincoln é posterior ao de Django Livre e é contemporâneo ao lançamento de Os Miseráveis escrito pelo romancista francês Victor Hugo. A aprovação da 13ª emenda exigiu um esforço enorme do presidente. É possível vermos seu empenho em se convencer os que eram contra a abolição, com sua voz hipnóticas e argumentos que Sócrates invejaria. As histórias contadas por Lincoln no filme são fantásticas, o modo com Daniel Day-Lewis interpreta o presidente o faz se confundir com o próprio Lincoln, não buscamos traços dele no ator, mas sim o próprio ator que se confunde em um gesto de mimetismo cinematográfico com o líder que interpreta. A verdade com que as palavras saem de sua boca nos levam a imaginar a maravilha da presença de um ser iluminado pelo dom das palavras certas no momento exato. Assim foi Lincoln, um gênio incompreendido que viveu em uma época de trevas, mas com sua luz própria trouxe ao mundo a liberdade que nos foi concedida pelo próprio criador!

Steven Spielberg
Que o cinema esteja com vocês!

2 comentários:

  1. Acredito que seja bom, mas parece demasiado feito para os Óscares. Não acho que venha a ser o meu preferido dos nomeados.

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  2. Eu também deixei "Lincoln" para o final, mas por opção, acreditei que não fosse gostar tanto dele e acabei me surpreendendo, eu também gostei do ritmo da trama, que é condizente com a proposta do filme. O Day-Lewis está formidável, o que não é novidade, e o Spielberg entrega um trabalho bem mais consistente dramaticamente que o seu antecessor, o irregular "Cavalo de Guerra".

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